15h e eu acordava, vacilante de sono pela casa. Na mão, o resto do café que bebi até o meio-dia, hora em que consegui ir dormir terminando um trabalho do dia anterior.
Andei com o copo frio na mão pela casa acolhedora. Vaguei comemorando as ausências. Nunca fui muito bom em morar com outras pessoas. É como fazer sala e sustentar máscaras o tempo todo, uma extensão em menor escala do que o convívio social impõe: sorrisos forjados e cumprimentos por obrigação; tudo em prol da preservação do eu.
Viver sozinho é o que sou. Viver sozinho te brinda com todas as solidões de que a vida se compõe, e isso é bom. Sempre foi o que me fez sentir imerso no real, a total certeza de que ninguém viraria a chave na porta.
Apoio o copo na pia e verifico o celular. Os muitos “tenho que” já me chamam. E-mails e mensagens em grupos de WhatsApp. A visão ainda turva me conduz a completar o copo com café.
Não foram os “tenho que” que me tiraram da cama. Deles eu sempre dou conta. No curto espaço de tempo em que dormi, ela me apareceu em sonho, o beijo calado em um toque abrasivo.
Foi só um sonho nebuloso. Eu e Elizabeth em uma casa que não identifiquei, embolados em saliva e roupas que se afugentavam de nós. Embolados em identidade.
Enquanto o café caía no copo, percebi o que me acordara tão de súbito. Não foi despertador; não foram as muitas mensagens de trabalho no celular. Não são os “tenho que” que fazem textos me acontecerem. É ela. É sempre ela. Alguns sonhos bons são ainda mais funestos que a insossa trivialidade.
Confiro de novo o celular. Ainda são 15h. Natural, quantas bocas não cabem no segundo de um pensamento? O café da cafeteira, também ele, está frio.
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