[…]
Era a festa a fantasia que a “Lanternagem e pintura” organizou, a banda em que Júlio tocava bateria. Leonardo tinha virado duas tequilas, o que para ele era muito, sempre fraco
pra bebida. Se aproximou do palco e viu Fernanda de costas, pulando animada. Ela estava usando aquele mesmo macacão que usou da última vez em que se encontraram, há quase dois meses, aquele que ele deu a ela de presente e que a deixava ainda mais bonita naquelas formas. Ela ainda não pintava o cabelo de loiro nessa época, usava bem escuro e estava enrolado.
pra bebida. Se aproximou do palco e viu Fernanda de costas, pulando animada. Ela estava usando aquele mesmo macacão que usou da última vez em que se encontraram, há quase dois meses, aquele que ele deu a ela de presente e que a deixava ainda mais bonita naquelas formas. Ela ainda não pintava o cabelo de loiro nessa época, usava bem escuro e estava enrolado.
Ele nunca tinha visto Fernanda de cabelo enrolado, achou bonito, estava preso em um rabo de cavalo. Júlio olhava fixamente pra ela e ela parecia acenar para ele enquanto dançava. Ele a puxou pela cintura e a beijou. Talvez fosse saber que ela viajaria no dia seguinte e que não a veria por um ano ou um pouco mais, ou a surpresa de ela ter resolvido ir de última hora, mas aquele beijo estava diferente, Leonardo nunca tinha beijado Fernanda de maneira tão profunda e quente.
Ele sentiu seu corpo amolecer inteiro naquele beijo, ele a descobria de novo. E gostava. Aquela mulher não podia ir embora, como só percebeu isso agora? Seria tarde demais? A cintura de Fernanda estava incrivelmente fina, ela devia estar correndo com Júlio durante esse tempo em que não se viram. Ela usava uma máscara do Fantasma da Ópera, provavelmente emprestada da Manuela, era a cara da Manuela isso. Mas uma sensação estranha estava ali.
– Eu estou bêbado demais ou você colocou silicone? – Dois meses. Ela fez a cirurgia e não falou nada? Mas aquele volume todo nunca esteve ali, Leonardo conhecia bem.
– Silicone, Leo?! – Ela deu uma gargalhada. – Isso está aí há muitos anos! Achei que tinha me reconhecido, mas parece que você agarra estranhas em festas agora! – ela disse isso e
puxou a máscara.
– Silicone, Leo?! – Ela deu uma gargalhada. – Isso está aí há muitos anos! Achei que tinha me reconhecido, mas parece que você agarra estranhas em festas agora! – ela disse isso e
puxou a máscara.
Não era Fernanda. Era Manuela.
– Manuela?! – Leonardo sentiu a garganta secar.
– Pelo jeito agarra mesmo! – A cara de surpresa que Leonardo não conseguia desfazer deve ter levado Manuela àquela conclusão. Manuela. Ele não a via desde o último aniversário de Júlio e era setembro, então tinha quase um ano. Como Manuela conseguia ficar cada vez mais bonita? O cabelo enrolado. E ele nem reparou. Melhor não falar pra Fernanda que beijara Manuela por engano.
– Manuela?! – Leonardo sentiu a garganta secar.
– Pelo jeito agarra mesmo! – A cara de surpresa que Leonardo não conseguia desfazer deve ter levado Manuela àquela conclusão. Manuela. Ele não a via desde o último aniversário de Júlio e era setembro, então tinha quase um ano. Como Manuela conseguia ficar cada vez mais bonita? O cabelo enrolado. E ele nem reparou. Melhor não falar pra Fernanda que beijara Manuela por engano.
Mas que engano! Manuela não era só linda e divertida do alto daqueles 1,78m, Leonardo acabava de descobrir, numa estranha sintonia, um interesse por ela. Repentino e talvez maior do que deveria. Pegaria mal levá-la pra cama? Já se conheciam há dezessete anos. Dezessete anos. Nada mais justo, pelo jeito prometia.
– Eu estava brincando, sabia que era você, Manu – disse Leonardo acariciando a pele com cheiro adocicado – é que estou um pouco bêbado.
– Isso eu percebi, me agarrar do nada! Nunca imaginei. – Manuela sorria um pouco sem graça e era lindo. – Mas eu gostei. – Ela sorriu e o beijou de novo. Aquele sorriso que ele nunca achou palavras pra definir, mas que deixava qualquer um entregue. As covinhas. O celular tocou, era uma ligação de Fernanda.
– Vou atender… – Leonardo mostrou o celular e se afastou.
– Isso eu percebi, me agarrar do nada! Nunca imaginei. – Manuela sorria um pouco sem graça e era lindo. – Mas eu gostei. – Ela sorriu e o beijou de novo. Aquele sorriso que ele nunca achou palavras pra definir, mas que deixava qualquer um entregue. As covinhas. O celular tocou, era uma ligação de Fernanda.
– Vou atender… – Leonardo mostrou o celular e se afastou.
– Fernanda? Achei que viria.
– Te falei que era difícil, tenho que estar pronta mais cedo do que imaginava amanhã pra embarcar. Mas a Manu me disse que vai! Veio até aqui mais cedo e pegou uma roupa emprestada. Já se viram? Faz tanto tempo que talvez vocês nem se reconheçam, né? Manda um beijo.
– Ainda não – mentiu ele –, mas mando, sim, acabei de chegar. Não te vejo mais?
– Não dá tempo, Leo. Estou ligando pra avisar que deixei o caderno de cifras na portaria do seu prédio. Estava aqui, achei quando fui arrumar as coisas.
– Obrigado, senti falta. – Leonardo sentiu Fernanda evasiva, o que era típico. – De você também.
– Aham, aproveita, um beijo.
– Boa viagem.
– Te falei que era difícil, tenho que estar pronta mais cedo do que imaginava amanhã pra embarcar. Mas a Manu me disse que vai! Veio até aqui mais cedo e pegou uma roupa emprestada. Já se viram? Faz tanto tempo que talvez vocês nem se reconheçam, né? Manda um beijo.
– Ainda não – mentiu ele –, mas mando, sim, acabei de chegar. Não te vejo mais?
– Não dá tempo, Leo. Estou ligando pra avisar que deixei o caderno de cifras na portaria do seu prédio. Estava aqui, achei quando fui arrumar as coisas.
– Obrigado, senti falta. – Leonardo sentiu Fernanda evasiva, o que era típico. – De você também.
– Aham, aproveita, um beijo.
– Boa viagem.
Desligou o telefone, observando em volta. Risos e máscaras. Máscaras. Júlio no palco, com o olhar distante, tocava altamente concentrado, muito mais agora do que quando Leonardo chegou. Ele sempre lembrava do personagem de Jack Black em Escola de Rock quando o via tocar. Sentiu alguém o abraçar por trás, e aquele toque esquentou seu corpo de um jeito estranho.
Era Manuela. O sorriso largo e a imensa vontade de que aquela sensação não acabasse nunca mais. Na época, ele não se deu conta, mas costuma lembrar como foi uma certa ironia do destino nessa hora a “Lanternagem e pintura” começar a tocar uma versão hardcore da música “She will be loved”, do Maroon 5.
[…]
O (não) lugar do amor.
Sinopse: Leonardo acabou de ser convidado para o Falo de Príapo, o anônimo e seleto grupo de discussão de alunos da pós. Com Júlio, mais comparsa que amigo, vai tentar descobrir quem são os integrantes, administrando labuta e produção acadêmica. Mas como a vida, tampouco na era digital do “tudo-aqui-agora”, não é linear, o inesperado surge em seu caminho, e ele vai lidar com essas arestas da forma que pode: com humor, cerveja e, eventualmente, alguma música do Raça Negra. Uma morte misteriosa na família de sua noiva e uma suspeita de plágio parecerão pouco perto daquele inevitável e vertiginoso incômodo com que ele vai se deparar: o paradoxo bênção e maldição a que chamamos de amor. O ambiente acadêmico e suas peripécias se mesclam à cena praia-sol-cerveja carioca, propondo a paisagem urbana como integradora das formas de vida. Em seus personagens, a trama tipifica a configuração do amor contemporâneo, perdido entre uma sociedade imediatista e à necessidade tão humana de estabilidade.
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