Um número insistente interrompeu o Araketu que tocava.
“Vem ver Netflix comigo, Val!”. Já começou mal, essa é uma das abordagens que mais me irritam. “Vamos fazer alguma coisa! Já almoçou?”. As investidas não paravam, fui responder bem agradável que detesto ficção, estava trabalhando e já tinha comido, quando veio a frase responsável por amolecer meu coração: “Tô saindo pra comer agora, queria companhia.” Filho da puta! Que golpe baixo. Apaguei rapidamente a mensagem te como se nada tivesse acontecido, e falei que ele podia passar na minha casa, que eu também não havia comido nada.
Aquela comida era em parte metafórica, após a denotativa, eu seria obviamente a conotativa, mas faltava Aquário para eu completar o Zodíaco, e tive que abraçar a empreitada em nome do bem maior. Ou em nome do fato de ele ser bem gostosinho.
No caminho para a afamada refeição, seus sinais de fraqueza de caráter foram ficando cada vez mais evidentes, ele não era só mais um chato insistente que beijava mal – é, meus caros, ele beijava com a boca muito aberta, sabem? Muito mole e babando, só vitória em Cristo… -, mesmo sendo da área médica, ele achava surpreendente a “coincidência” da gíria pinel para pessoas loucas sendo esse também o nome do hospital. Fingi que aquilo não tinha acontecido e foquei o signo.
Ele não parava de falar dele mesmo, até ia, não me seria ofensivo não fossem os assuntos absurdamente chatos e sempre permeados pelas derrapagens de cunho linguístico-cultural, inclusive um comentário específico sobre o trânsito do Rio não ter retorno. Pertinente!
Pós-comida literal, ele não deixou eu dividir a conta com ele. Ô glória! Prenúncio de coito iminente. Mau sinal, mau sinal! Coração já começou a ficar te como? Buscando a desculpa que eu daria para fugir dali, mas em parte eu ainda resistia. Parte esta que ruiu nos minutos seguintes, quando ele passou a conversar comigo EXCLUSIVAMENTE imitando a voz do Bob Esponja, e dizendo que podia substituir o dublador original, jack seus timbres eram os mesmos. Definitivamente, eu precisava de uma desculpa.
Credis estava com a boca ocupada, cravei no ato em um grupo do zap de amigos “Socorro, alguém me liga agora anda anda anda socoooorrrrr”. Muito firmeza, Escorpiana me ligou no ato, e ainda conseguiu não rir com minha cena do outro lado da linha. Discretamente, falei que um parente estava no hospital – sem coração e remorso, sempre mato alguém -, esquecendo que o dito cujo era médico e começou a me fazer as mais variadas perguntas, a que eu, obviamente, jamais saberia responder.
Rumei para o lar, misteriosamente, ele também nunca mais falou comigo… Deve ter ficado #xatiadx.
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