25.9.17

Destino - o arrepio do inevitável

Não. Esse não é mais um texto erótico ou humorístico. Embora eu erotize até o jeito dele andar e trate de humores, em sua acepção mais ampla – qual é o humor que não está em jogo quando falamos de amor mesmo?

Esse não é um texto sobre como nos envolvemos. Esse é um texto sobre como o perdi; não tanto por mim, mas pela vida já ter nos colocado na vida um do outro de uma forma irreversivelmente definida de que não ficaríamos juntos. Então foi assim, no melhor estilo “a volta dos que não foram”; sem nunca ter tido, o perdi. Embora haja um lado bem no estilo How to lose a guy in 10 days.
Assim como Ben, ele dá aula de como se conquista mulheres – não, isso não é uma metáfora. Só que ele tem muito mais charme do que o Matthew McConaughey. Assim como Andie, sou constantemente requisitada para responder questões sentimentais dos amigos, geralmente (e coincidentemente), dizendo a eles o que não devem fazer/ o que estão fazendo de errado. Só que a minha retaguarda é um pouco mais favorecida do que a da minha musa Kate Hudson.
Assim como Ben, ele tentou me conquistar pelo esporte. Assim como Andie, eu tentei afastá-lo por hobby. Assim como ambos, nos apaixonamos, endossando bem o que diz Carly Simon, na trilha sonora do filme, “and all the girls dreamed that they’d be your partner”. E nesse grupo eu me incluo. Como eu não ia querer? Haveria algo mais clichê do que ele se tornar o cara para mim?
Na vida vivemos vários amores, é a verdade, ainda que o desconheçamos em plenitude, intensidade ou extensão. Amores desesperados e sufocados de uma noite. Amores eternos de um final de semana. Amores mornos e vazios de mais de 5 anos. Amores que são uma amizade que nem sempre aceitamos enxergar. Amores opacos que não chegam nem perto de definição qualquer. Amores mal resolvidos. Amores que não queremos de maneira alguma resolver. Amores que dão sentido a toda filosofia gasta para entender o tempo. Amores que solucionariam facilmente páginas e páginas de Wittgenstein. Amores que ilustram Einstein muito bem.
Embora afeita a contos de fadas e análogos, eu nunca acreditei no amor; na verdade, eu detesto ficção como um todo e era isso o que amor era pra mim, algo que vende muito bem na ficção.
Olhando as coisas que me acontecem, só me resta mesmo rir e fazer graça disso. E escrever. Sexo vende. Humor vende. Derrota vende mais ainda, vide a propagação absurda dos pagodes e sertanejos da vida (sou consumidora ferrenha de ambos os gêneros). E assim surgiu o blog, fazendo estatística. É bem ruim pensar assim, ainda mais considerando que expomos histórias de algumas pessoas que foram significativas em nossas vidas, mas, no final das contas – ou das letras, já que não resisto a fazer trocadilhos e piadas sem absolutamente nenhuma graça (Credis diz que não são piadas, mas ofensas) –, não passa disso. Afinal, é isso mesmo que a vida parece querer de mim. Estatísticas. Estatísticas do trash. Estatísticas de uma opção controversa para uma pessoa soturna. Olhar para as “derrotas” e tirar um lado bom, de humor, de brincadeira, uma opção por levar os desencontros entre desejo e destino com leveza e humor.
Destino. Essa é mesmo uma palavra muito da filha da puta. Minha repulsa não passa ao ler/ouvir isso, acho que ela só cresce. Eu escrevi para ele certa vez um conto que começava assim:
“Destino ninguém muda. Sempre foi uma frase que mexeu comigo. Me dava asco, era isso. Porque eu sempre preferi a ilusão do controle. Mas eu sabia que ali havia um fundo de verdade. Isso misturado à máxima de estar na hora certa, no lugar certo. E minha história com Francisca retrata isso com uma precisão tão literal que me faz ter arrepios ao ouvir aquela bendita palavra.
Destino.”
Ah, destino, seu bostinha!
Nada diria mais sobre mim. Nada de tudo que vivemos/conversamos/compartilhamos diria mais sobre mim. Nenhuma outra pessoa. Nenhuma outra história. Nenhuma outra vivência com pessoa alguma em algum outro momento. Absolutamente nada na minha vida diria tanto sobre mim quanto ele e tudo o que a ele se referisse.
Sempre achei isso um puta egoísmo e que quem levava esse tipo de pensamento a sério só podia ser completamente idiota (eu acho todo mundo idiota. Mas no fundo eu acho que eu é que sou idiota, como as cartas de amor ridículas de Fernando Pessoa). “Eu nunca me abri tanto para alguém” / “Nunca fui tão transparente para alguém” e coisas desse gênero são extremamente egoístas. Quem disse que alguém quer “o mais fundo de você”, “aquilo que você realmente é, sente, blá-blá-blá”? O que se faz com essa bela porcaria?
Não sabemos nem o que fazer com a bela porcaria que somos, imagina ter que administrar a dos outros… (embora constantemente nos achemos totalmente preparados para isso. Talvez sejamos. Isso rende texto, a discussão não cabe aqui.) Mas eu me peguei falando e pensando todas essas coisas. Diversas vezes. Elas encaixavam os pontos. E eu sempre tive uma sede absurda pelo sentido.
Mas se fazia sentido foi porque ele extraiu isso de mim, como se fosse natural. Inclusive me peguei usando essas ideias de base lógico-argumentativa no santo reduto da retórica. Aristóteles teria vergonha de mim. Leu minha Poética para isso? Pois é, mestre, nem para ler eu sirvo.
O conheci como algo que fora decretado para acontecer na minha vida. Ele me disse que eu era apaixonante. Eu disse que era recíproco, de maneira bem leviana. Eu nunca me apaixonaria por aquele cara. Eu me apaixonei perdidamente por aquele cara. Tivemos poucas conversas, os assuntos eram interessantes, mas se isso bastasse eu estaria casada com livros (se bem que isso não é de todo mentira). Mas quando o revi e precisei engolir o coração, vi que algo havia acontecido. Aquele tipo de “magia”. Senti o corpo esquentar inteiro na hora, e aquela sensação do “pirlimpimpim” tirando da realidade me invadiu. O mundo ao redor virou um borrão e, de repente, só existíamos nós dois nele. Eu não saberia dizer sequer se era dia ou noite. Eu não saberia dizer onde exatamente eu estava, ou como. Se eu estava vestida, se a hiperidrose estava, como sempre, me envergonhando. Eu simplesmente não sabia mais nada.
Eu não sabia mesmo que essas coisas existiam. Ele me disse que eu estava apaixonada por ele. Eu neguei, mas eu sabia que qualquer um que me olhasse naquela hora saberia disso. E tudo o que me aconteceu depois. Toda a absurda dopamina desencadeada, todo o potencial realizador para absolutamente qualquer coisa, toda aquele sede do mundo, de vida. A gaia certeza. A gaia energia fazendo com que praticamente nada me abalasse. A gaia .
Porque é isso que o amor é capaz de dar. Mais do que sentido, . Por isso eu disse a ele que não me arrependo de nada, pelo contrário, sou grata à vida por tudo. Eu me tornei descrente na vida muito cedo (material para outro texto…), é gratificante ser brindada pela vida com algo que consiga reverter isso.
Claro que me questionei por que aquilo estava acontecendo comigo – oh, que drama existencial essa vida, oh -, por que eu não poderia viver aquilo ali plenamente e outras inutilidades afins de um dia sem tradução para fazer ou louça para lavar. Mas, no fundo, eu aprendi que tudo é pleno (ou talvez seja somente minha veia heideggeriana).
As convenções e os nossos desejos pré-concebidos fazem com que planejemos as situações e isso talvez nos coloque a perder o melhor delas: a unicidade das pessoas que nelas estão, que as fazem acontecer. Isso é o que realmente tem o grande valor. Dentre tantas coisas, ele me fez não só enxergar isso, mas conseguir aplicar. Por isso não canso de repetir que, de tantas maneiras, ele me salvou.
Mas a vida não é somente este saldo de perdas e ganhos, ou tudo seria matematicamente bem fácil de resolver. E sou de humanas. E os feriados e os finais de semana vazios inevitavelmente aparecem. Pior do que eles, aparecem os cheios, naquele clássico clichê de se sentir sozinho no meio de um monte de gente.
Esse é de fato o pior tipo de solidão. E a solidão e as lacunas que eu até então não conhecia passaram a me inquirir. Sim, por um outro lado, por aquele em que a razão não consegue acessar ou dizer que tudo vai ficar bem, eu estava sem chão com tudo isso, novamente, perdida no abismo eterno do sentido.
Eu estava despedaçada. Muito mais do que ele, eu tenho certeza, mesmo imaginando o malabarismo que deve ter feito para aparecer na minha casa aquele dia. Eu desci e o vi. Todas aquelas sensações me invadindo sem nenhum pudor.
E eu tive duas daquelas certezas inquestionáveis. Definitivas. Tão cruéis. O meu príncipe encantado existia, e ele estava ali, irretocável, bem na minha frente. E ele nunca seria meu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário