25.9.17

Ela não vai amar você

De todos esses discursos muito na moda ultimamente que enchem nossa timeline no Facebook, um dos que mais me incomodam é sobre a superficilidade alheia. Vivemos em tempos de descarte, não nego, mas é muito raso reduzir nossas lágrimas de pés na bunda a isso.
Prepara o lenço, Netflix, pote de sorvete, caralho a quatro e vem comigo encarar os fatos: as pessoas não são obrigadas a se apaixonar por você.
E se elas não gostam de você, sim, é melhor que não fiquem. É óbvio que dói. Levo pé na bunda desde que me entendo por gente, então sei muito bem que, sim, dói. Dói pra caralho. Mas não culpe as pessoas por não te amarem. Nem você mesmo, aliás. Isso não torna você menor. As coisas não são assim tão dadas.

Só vejo uma recorrência nesse discurso da superficialidade de muita falta de percepção e até empatia com a pessoa “superfilha da puta” que não se apaixonou por você. Não sei se é desejo de culpar o outro, uma necessidade de achar o bode expiatório ou expurgar o ódio.
É, não entendo como as pessoas podem desenvolver um ódio absurdo pela pessoa simplesmente porque ela não se apaixonou por você. Mas é bem recorrente, né? Vejo muito associado a isso o discurso de “Fulanx não presta, é galinha, me iludiu, é um babaca” etc. etc. etc. Oh, céus, qualquer deus que houver, dai-me paciência.
Desculpa a porrada, mas babaca é você, quando ridiculamente pensa assim e propaga seu ódio simplesmente porque alguém não quis ficar (mais, se for o caso) com você.
Não estou sendo leviana com seu coração partido (ou com o meu, que vive dilacerado, se te consola), de maneira alguma, mas a pessoa simplesmente não é obrigada (não é assim que falamos atualmente?) a gostar de você. Simples.
Às vezes ela até tenta. Isso não representa que ela está te iludindo, que não vale nada, que é fria, que não tem coração ou até que é descartável e superficial. Eu até acho que é bem pelo contrário.
Umas gerações atrás, eu via muitos relacionamentos por conveniência. Não sei se era conformação ou algum acordo tácito social. Vejo um movimento da nossa geração (nem tão minha mais porque já cruzei o cabo da boa esperança – inclusive usar essa expressão revela isso) de se mover por paixões, de não aceitar meio-termo e plano B.
Isso gera essa ciranda aí que nós vemos, um monte de amores sufocados não correspondidos e um monte de solteiros inveterados, porque se não é para ser “aquela coisa toda”, é simplesmente melhor não ser nada. Não dá pra viver pela metade.
Isso não é ruim, não mesmo. Acredite, sei o quanto dói e desesperador é ter um coração partido, mas é melhor do que ser plano B ou a conformação do “serve isso” na vida de alguém. Eu não quero isso na minha, por que vou querer ser plano B na dos outros?
Você pode querer viver plano B e relacionamentos conformados, aí é contigo e boa sorte, mas não pode culpar e odiar o outro por não querer. Você não tem nem minimamente esse direito. Essa seara não é sua.
Não culpe o outro. Você também já feriu corações e não necessariamente foi intencional. Você também já “descartou”, então sabe muito bem o quanto as coisas são muito mais complexas do que parecem. Você também já não se apaixonou.
Ela não vai amar você, e isso não a torna filha da puta nem superficial. Ele não vai amar você, e isso não torna ele um escroto sem coração. Parem com isso, por favor.

Originalmente publicado em Sensations. Curta.

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