Como o conheci na academia em que eu treinava, o chamarei de Cintura. Ele era professor, um dos mais cotados e lindo. Altura mediana, coxão, fortinho na medida certa e carinha de nerd, com óculos, totalmente meu número. Já me chamou pra sair na maior pressão “vamos pra um bar hoje à noite e direto pra praia amanhã de manhã”. Ousado. Entendi o recado. Fui toda trabalhada na maldade. Depilação cavada, Vagisil, unha feita, até cotonete usei! Ele me buscou em casa, e já foi logo me beijando. Sendo eu a maníaca do zodíaco, já pedi logo o mapa “sou peixes com ascendente em touro, lua em…”, “Anão!” Peixes parecia até sacanagem, nem quis saber o dia, mas ele falou mesmo assim. Pegada que segue, a coisa tava bastante digna.
Saímos pra comer e conversar aleatoriedades e ele não parava de se gabar que ele conversava “sobre tudo e eu esperava que só falasse de halter”, eu não esperava isso, mas até que gostei da colocação. Mal sabia eu que aquele seria o único tipo de colocação que eu gostaria vindo dele. Notei ele dando severas olhadas pra uma mesa próxima, discretamente fui procurar o alvo, mas não encontrei, só havia um grupo de rapazes, algum conhecido, talvez, só disfarcei. Quando me deixou em casa, já foi me alisando, a mão deslizava por todo meu corpo. Embarquei, afinal o plano inicial era a trepada, né?
Comecei a retribuir, mas qual foi o 7 a 1? Ele começou a dar um ataque “que putinha você, mal me conhece e já fazendo isso”. Assumi que aquilo só podia ser brincadeira, por vários motivos, dentre eles, ele ter começado, porém parei os trabalhos por ali mesmo. No dia seguinte, mal acordei e já havia cerca de 20 mensagens dele no zap zap. Baqueei, mas como costumo dar uma chance pro ser humano, saí com o elemento mesmo assim. Iríamos ao cinema, coisa de que não gosto, porém abri o coração. Na escada rolante do shopping, fui responder minhas bests no grupo que à época se chamava “Putaria maneira”, novo piti se deu. “Heeey, putaria??? Que grupo é esse?” expliquei que era uma brincadeira, até porque a maioria dos assuntos era caidona, mas não obtive adesão e outro piti se seguiu sobre a inadequação daquele nome e eu abrir a conversa em um local público.
Notei que a cada novo ataque sua voz se tornava mais aguda e esganiçada, mas vida que segue. Ele havia esquecido a carteira no carro e tivemos que voltar para o estacionamento. Não perdi tempo, queria ver logo qual era a dele e já fui agarrando, dessa vez com uma abordagem bem mais veemente. Fomos pro motel, ainda de roupa, mal botei a boca no pau dele e ele já gozou. Mas a performance sucinta não foi nada, FODA mesmo foi ele ter começado a chorar e gritar que fazer aquilo tão rápido era errado, era coisa de puta e que ele tinha uma imagem completamente diferente de mim, como eu usava óculos (????) eu parecia quieta (??????????…).
Eu deveria ter ficado puta (em outro sentido, né?!), mas entendi aquele show todo como uma defesa dele e tentei compreender. Questionei e passamos o resto da diária conversando, ele abrindo o coração sobre problemas com relacionamentos anteriores, com a família e a vida como um todo. Como sou derrotada pelas zoeiras da vida, tendo a ser compreensiva e relevar as derrotas alheias, então preferi entender o mau momento do cidadão e dei uma chance, acabamos ficando juntos e descobri que a performance fora daquele nervosismo nem era tão sucinta assim. Porém os pitis ocorriam eventualmente “ai, você pintou o cabelo” / “outra tatuagem?” / “odeio esse sabor de whey, você faz de propósito” / “não vou te comer porque tá muito molhado e assim me dá nojo” / “aquela aluna não combina a legging com os tênis” e por aí iam as cenas, pelos motivos mais esdrúxulos.
Certo dia, fui chamada por uns amigos para fazer trabalho social e quem coordenaria a equipe do teatro comigo seria Daniel, um ex-namorado. Sempre nos demos bem à parte relacionamento, então tudo certo. Cintura, que morria de ciúme de todo e qualquer ser que respirasse e praticamente me proibia de ter contato humano reagiu bem diferente com Daniel. Não se importava com sua presença ou sequer que eu falasse com ele. Pelo contrário, não parava de querer encaixá-lo em todos os nossos programas e me fazia ligar para ele convidando para sair. Aquela situação estava bem chata, mas eu só disfarçava.
Uma vez, durante o sexo, eu estava de quatro pra ele, no que eu jurava ser minha melhor performance, ele tinha mania de puxar meu cabelo e ficar balançando a cabeça no ritmo das metidas, dava uma puta enxaqueca e vontade de scat, mas meu coração tentava superar aqueles maus momentos. Notei que dessa vez isso não estava ocorrendo, então olhei pra trás com toda a cara de vagaba que a natureza me brindou para encará-lo e percebi que ele estava de olhos fechados e com a cabeça pra cima, como se fizesse um tipo de prece. Achei aquilo curioso e só me pus a observar, pela leitura labial que fiz ele balbuciava “Daniel, Daniel, Daniel”, achei que era imaginação minha, mas ele soltou a confirmação em alto e bom som “Caralho, Daniel, seu cuzinho é um sonho”.
Parei no ato. “Que porra é essa, Cintura?”. Ele se fez de desentendido, mais uma de suas especialidades, e seguiu dando ataque, tentando reverter a situação. Mas pra mim já estava insustentável, por diversos motivos, e terminei. No dia seguinte, ele começou a perseguir Daniel sem parar, na tentativa de empreender um romance. Mas, por mais uma ironia da vida, quem acabou ficando com Daniel fui eu, fato que fez com que Cintura me declarasse ódio eterno.
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