25.9.17

Inclusive, quero

“Posso morder sua bunda?”, foi assim que a abordei, rapidamente sacando a tábua dos dez mandamentos para que ela não tivesse escapatória, estava tudo ali: cuzinho e mordida na bunda não se negam a ninguém.

Ainda assim, senti Valentina relutante. A julgar pelo seu jeito de fancha – que, inclusive, quero – e pelos suspensórios destoando do ambiente, soube na hora o golpe baixo a usar, mostrar todo meu jeito andróginx de gênerx indefinidx. Puxei a toca e, enquanto balançava minha enorme crina de cabelos ondulados caindo sobre os ombros, proferi as seguintes palavras: “Eu tenho cabelo grande, tô aqui disfarçado.”
Vi Valentina baquear, e logo notei que não poderia ter escolhido abordagem melhor ao notar uma poça de lubrificação se formando ao seu redor, aquilo era mesmo umx mulhxr ativx comedorx que sabe o que quer.
Somente Jeová Todo-poderoso sabe como conseguimos trocar zap zap e face no estado deplorável em que nos encontrávamos, mas já cravei meu nome todo, cpf, tipo sanguíneo, uma radiografia recente da minha arcada dentária e o diâmetro do orifício retal no celular dela para não ter erro e conseguirmos nos achar, combinamos um show no dia seguinte bem headbanger do malzão, as virtuosas Maiara e Maraísa.
Mas como tenho lua e mercúrio em gêmeos, logo me arrependi do combinado, e foi exatamente neste momento que percebi o quanto Valentina é verticalmente prejudicada, o que me despertou uma antiga parafilia.
Reuni toda minha técnica de quando era atleta de arremesso de músicos anões da cena carioca para atirá-la a dez metros de distância. Como estava destreinado desde os tempos da faculdade, somente consegui arremessá-la a 8,5m, pelo menos foram suficientes para desová-la nos arredores do posto médico. Missão cumprida! O rápido movimento me deu saudade dos velhos tempos, e voltei ao show para procurar novas vítimas.
Mas quem disse que Valentina se intimidava? Ela retornou tal qual um entusiasta da zoombie walkie, toda desfigurada (eu não tinha mesmo perdido a mão pro esporte, fiquei orgulhosx!), me pedindo o celular para chamar um uber, aparentemente seu celular dera pt na hora do arremesso. Finalmente ela foice, e martelo, e filosofei solitário com minha última quimera.
Mas no dia seguinte, durante a ressaca, tive aquele momento estético, pensando que, altruísta, deveria dar uma bimbada com minha giromba avantajada em uma carioca e a conclamei para o abate, a que ela prontamente acatou.
Valentina não era lá grandes coisas, tanto denotativa quanto conotativamente, e durante o coito eu só gritava: “Socorro” alternando trechos do Molejão. Ela entendeu o recado, e decidimos por bem que eu deitaria em seu divã lacaniano, para compartilhar com ela meus mais obscuros segredos e pulsões do id, como minha paixão adolescente por paquitas.
Não compreendi a reação que ela teve, saiu insana praguejando todos os deuses do Olimpo, e perguntou se eu me ofenderia se fôssemos embora, que ela não estava ali para isso.
Apelei para seu superego, e pedi apenas um nude de recordação, mas a única coisa que me entregou foi um pôster do Wesley Safadão com um little Kiss no ombro. E me deixou ali, de pau, pedra e o fim do caminho na mão, partindo como a própria vida, sem sentido e explicação.

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