25.9.17

Me chama de Lacan e me analisa

Credis já não suportava mais as constantes crises de ansiedade que eu estava tendo, e me recomendou fortemente procurar um especialista; ir para minha casa todo dia às 3h da manhã levar Lindt e as mais variadas Jung foods já estava insustentável.

Pesquisei no catálogo do plano um bom psicólogo que pudesse dar conta de mim. A verdade é que eu não conhecia nenhum, e sempre que ouvia indicações, elas não me passavam firmeza alguma, então permiti que o oculto fizesse o trabalho; fiz um Reich, rolei a tela do computador de olhos fechados e botei o dedo na tela.
Dr. Osbórnia tinha título de especialista, foi para onde o oculto direcionou meu dedo. Não confiei naqueles cabelos repartidos ao meio maiores que os meus, que pareciam tratados a escova marroquina, tampouco nos óculos redondos ou naqueles óleos que pareciam ter sido pintados com sombra rosa Pinker. Mas o oculto quis, e quem sou eu para ir contra os desejos do oculto?
Telefonei e ele apresentava um sotaque que denunciava não ser do Rio. Pelo menos não era cubano! Bom, na pior das hipóteses, eu só teria mais uma história pitoresca para contar, então abracei a rusticidade e marquei a consulta para dali a dois dias. Ele me passou um celular, para o caso de algum imprevisto. Fui logo ver qual era a foto do WhatsApp; depois daquela “profissional” no site do plano ser tão peculiar, o que me esperaria?
Quando vi, no ato, já pisquei. As madeixas alisadas agora eram ostentadas em um lenço de oncinha azul caindo pelos ombros, bem heterozão, do jeito que eu amo/sou, e ele trajava uma camisa rosa com um colete cinza de texugo por cima; dessa vez não havia dúvidas: sem os óculos, vi seus óleos nitidamente pintados. Confesso que me animei para a consulta, já totalmente descrente no tratamento (mais, como se fosse possível), porque eu não esperava que aquele homem me aLagache de tanto umedecimento bacural.
Cheguei e percebi que Dr. Osbórnia portava métodos pouco convencionais, afinal, ele estava nu, ostentando apenas um violão.
– Watson? – perguntei, mas ele pareceu ignorar.
– Sente-se, pequena gafanhota.
Bem brat, obedeci.
– O que a angustia?
Queria falar que era aquela cena, mas me contive.
– Você tem mágoas guardadas? Pra que mentir, fingir que perdoou? – questionou ele.
– Não era amor, era cilada, Dr. Osbórnia – respondi humildemente, prosseguindo – eu tenho que lhe dizer o que estou sentindo por dentro, poderia mentir para mim mesma, mas é verdade.
– Desejaria poder voltar atrás e mudar esses anos – disse ele, e notei que, surpreendentemente, ele me compreendia. Seria ele minha alma gêmea?
– Estou passando por mudanças – falamos ao mesmo tempo.
Levantei do divã de impulso, em êxtase, encarando-o fundo, e percebi que ele não era Dave Elman, mas, gato, puta merda, que hipnose! Ele não era Brian Weiss, mas só minha paudurecência era real! Que conexão! Que homem! Que calor interno! Não me restava opção a não ser cair de boca naquele falo, que rapidamente notei o quanto era nobre, mal podia abocanhá-lo totalmente devido a suas proporções avantajadas, algo um tanto frustrante frente a meu desejo inconsciente de possuí-lo.
Dr. Osbórnia correu as mãos pela minha nuca, instantaneamente me arrepiando, enquanto eu corria a boca por sua Skinner tão alva; queria sorvê-lo, bebê-lo, tê-lo dentro de mim em muitos sentidos, a contraparte literal era a mais insignificante. As evidências, nessa loucura, não disfarçavam; nessas horas, o corpo fala.
– Me chama de Pavlov e toca minha sineta direito – disse ele. Eu devia estar demonstrando parcos níveis de habilidade.
Então o joguei no divã e montei nele, sentindo seu pau extremamente duro, latejando dentro de mim bem fundo, e ele me segurou forte pelo pescoço, em vertigem e torpor, me sufocando tal qual o superego faz com os desejos do id.
Ele me colocou de quatro, e começou a me chupar por trás, corria a língua sem perdoar nada, do corte lacaniano a Vygotsky.
– Gosto muito de cultura grega. Mitologia grega, iogurte grego e beijo grego. Principalmente – falei tentando uma investida anal, minha parafilia, mas não obtive muita adesão. Ele seguia a corrente de Krafft-Ebing, e não era dado a certas perversões, que julgava serem patologias. Nesse momento, ele interrompeu o sexo onírico que estávamos fazendo, e se recompôs.
– Já tenho o diagnóstico – anunciou.
Então Dr. Osbórnia rabiscou em seu receituário por longos minutos, durante os quais só me restou colocar minha roupa, espalhada em seu consultório. Ele me entregou a receita bem sério, junto com um livro. Aparentemente, ali eu encontraria todas as minhas respostas.
– Foi um prazer – falei. – Pena que só oral, gostaria de ficar presa na sua fase anal para sempre, se é que me entende, Dr. Osbórnia.
– Me chama de Ozzy.
E, enigmaticamente, fechou a porta do consultório, me deixando de Piaget na mão

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