Não me suponha. Não me quantifique em estatística enquanto escrevo. Isso são só mundos nos quais quero estar, ou dos quais preciso manter distância. E você nunca vai saber a diferença. Porque quem escreve cria também ausência. Sentimentos inomináveis. Lugares não visitados.
Você não sabe. E não percebe que escrevo sobre o que vejo, mas que não necessariamente está em mim. E que escrevo sobre o que não me pertence. O que me é tão forasteiro que só posso compreender assim: tomando posse quando escrevo.
Não me conjecture. Você não faz a menor ideia. E nunca vai saber só por me ler que o que mais gosto de comer é a combinação prosaica e improvável de macarrão com batata frita, e que detesto Nutella. Ou que, embora haja muitas pessoas que amo com ênfase e itálicos, traumas de infância me fizeram só me sentir de fato seguro sozinho.
Não me presuma. Você nunca vai saber dessas coisas só porque as escrevi agora. Fatos, nem eles, nem sempre representam verdades.
E tudo que escrevo tão óbvia e abertamente para você reflete nada mais do que me diz: senso comum exacerbado, com que me deparo todos os dias. Então como você me pressuporia, se seu sentimento patente e expresso são planas multidões?
Se realmente me apreendesse, como suntuosamente decreta ao me ler e julgar minhas pretensas realidades, você saberia que sequer acredito em r e a l i d a d e. Tudo que sou é isto. Alheio. Não, não me suponha. Não mesmo.
Originalmente publicado em Sensations. Curta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário