25.9.17

Preciso falar sobre Fulano

Entrando na onda de Duvivier, Bastos e afins, preciso falar sobre Fulano.
Conheci Fulano em uma boate de suingue e era segunda-feira. Eu, morrendo de tédio pela mistura de gente feia e DST à espreita no ar, perguntei se podia chicoteá-lo assim que o vi saindo do banheiro. “Que homem feio, meu Deus”, pensei, “e ainda é alto pra caralho” (tenho ligeira tara em homem baixo). Eu jamais ficaria com ele. De início, ele disfarçou e eu insistente perguntei qual era o signo. Que abordagem caída! Mais caído ainda era ele ser ariano e ficar surpreso por eu saber o que é uma senoide. “Fiz ensino médio”, foi minha resposta. A noite seguiu permeada de rusticidade, peguei ele em conjunto com minha amiga, era o que tinha pra hoje.

Falei pra ela ir na frente fazer o teste e beijar ele primeiro e não quis acreditar quando ela disse que era bom e eu ia gostar, “vai ser ruim, eu tenho certeza”, eu não parava de dizer, enquanto virava a cabeça. Mas depois de muitas caras de saco cheio de ambos cedi e ele me amoleceu no ato. Nada demais, na hora. Eu na verdade só estava rezando pra que ele tivesse dentes, naquela meia-luz e com aquele sorriso esquisitíssimo… Ele queria chupar uma buceta a todo custo. Minha amiga se recusou a fornecer o aparato alegando que fedia por estar o dia todo na rua. Eu? Bem, eu tinha dado pro stripper, amigo de longa data, e comuniquei o fato.
Marcamos um ménage pra dali a dois dias. Só porque era ariano e era abril. Só porque o tédio do cotidiano leva a coisas como essas. Ou só porque nada relacionado a viver tem explicação alguma. Saí do banho, no motel, perguntando se eles se ofenderiam se eu ficasse fazendo revisão enquanto trepavam; eles levaram na brincadeira, mas era sério. Eu já queria desistir da empreitada e com certeza adiantar o trabalho seria melhor. Mas acabei participando e foi bom.
E foi bom eu, claustrofóbica, pela primeira vez não ter tido aquele pânico de morte ao andar de metrô, eu sequer me dei conta de que estávamos no metro até sairmos da estação e eu perceber que “caralho, pela primeira vez eu nem percebi que estava no metrô. Estranho”. E então estávamos na barca falando sobre Hemingway e Leandro e Leonardo. “Eu preciso te dar”, eu falei, e ele dizia que queria acordar comigo. Credo! Eu não queria um relacionamento nunca mais na vida. “Sabe que não vou te responder, né? Eu não faço isso”, foi assim que me despedi dele.
E no dia seguinte, antes das nove da manhã, tirei a cara da revisão pra responder. E pra falar com ele o dia inteiro. E no dia seguinte, eu comi o bolo todo dele, no café ao lado do meu trabalho em que fomos. E no dia seguinte, ele me mandou gérberas. E no dia seguinte, ele me revelou que tinha me dado um nome falso. E no dia seguinte. Bem.
Não, também não fizemos risoto. Na verdade, a gente imprime muito cupom do McDonald’s e tem vários orgasmos sentindo o cheiro feroz da comida do vizinho. E a gente caga de porta aberta (e eventualmente ele mija no meu vaso entupido), mas muito mais pela nossa falta de modos.
Amor não é jazz e poesia, concordo. Mas também não é o graças a Deus pela cara pouco feia da criança ou pela cama medir 1,91 e saber que ele vai caber. Amor não é nós dois no meu sofá tocando thinking out loud, dakota ou rebelde (sim, rebelde mesmo, RBD, podem acreditar) ou ele me stalkear em Petrópolis. Nem a noite que todos os meus amigos resolveram não ter insônia e eu não podia ligar pra ele, invadida pela mistura de precisar olhar pra ele naquela hora e não querer vê-lo nunca mais. Amor não é trocar 55 emails de término com um desfecho “te pego aí 17:30” como se nada tivesse acontecido.
Amor é algo entre aquela dose violenta de dopamina que te faz escrever a dissertação inteira e aquele tipo de paz que faz com que você olhe praquela cara feia e esquisita pra caralho (que hoje sabe que tem dentes!!!) e saiba que não importa, absolutamente, o que vai acontecer, porque, apesar de todas as muitas arestas, vocês estão ali.

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