25.9.17

Pudera ser você minha casa

Acordei e não tinha você. Era o vazio na minha cama. Vazio que ia de encontro ao burburinho dos meus pensamentos, tão repletos de você. Acordei e não tinha você, mas não era só na minha cama que você não estava. Era ausência daquele cheiro meio doce que me dá a paz de você quando sinto um parecido desavisadamente na rua. Era presença de tantas coisas que nem sei sobre você não estar aqui. Era presença de tudo o que me faz de algum jeito te deixar tão vivo. Era presença do que foge ao meu entendimento sobre você ser essa chama tão inextinguível, incêndio inextirpável de feridas latentes findas em disfarces patentes, explícitos para você nas minhas entrelinhas.

Acordei e não tinha você. Pudera! Sou toda praia e sol e areia na sunga; você, beleza hermeticamente projetada de ruas certas. Eu aqui tão errante e descompassada, te permitindo minhas vielas e ladeiras, ainda mais errantes. Sou toda oceano de incertezas desejando que seus cabelos fossem impossivelmente minha casa. Nossa estranheza óbvia, nossa familiaridade improvável.
Acordei e, olha, acho que era você. Porque algo de você sempre está aqui comigo, em qualquer estado em que eu esteja – de sonolência apaixonada a tesão em embriaguez, com esse z pronunciado vertido em um s muito bem assinalado. Sibilante, se as aulas de Fonética não me traem. É você, tão certeiro e irretocável, ainda que mascarado de eco, o som em infinito retorno dos meus sonhos na sala dos espelhos.

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