25.9.17

Raça poser

Assim que x vi já pisquei: cabelo e giromba enormes, tatuagem estratégica nas costas, cheio de manias, fora a habilidade com a mão direita. Fiquei assistindo à sua apresentação no evento de cosplay em que estávamos: fazia um cover perfeito do Lars Ulrich, pensei até se tratar do próprio. A imitação era tão irretocável que até o signo era o mesmo. Estava extasiada! Não esperei muito pra dar o bote: Me chama de baqueta e me perde no meio de um show, abordei, já mostrando todo meu conhecimento de causa baseado em maus momentos do David Hasselhoff.

– Eu tenho gostos peculiares, você não entenderia – disse ele me menosprezando.
– Tipo sexuais?
– Tipo ser fundador do fã-clube oficial do Avenged e detestar Iron, não quero nem ouvir nem olhar.
– Tudo bem, gosto de RBD.
– Crio ratos de rua.
– Minha parafilia é cu – quando falei, notei um brilho em seus olhos. Elx estava começando a me olhar diferente.
– Sou zoófilo.
– Necrófila.
– Meu filme preferido é Centopeia humana.
– O meu também!!! Mas eu nunca vi.
– Nem eu!
– Que pena, amor!
Ali eu soube que era o destino, tomei a única atitude acertada: roubei suas baquetas para homenageá-lo mais tarde.
Sabia que não seria fácil de arrastá-lx para os meus aposentos, então apelei para um golpe baixo: mostrei o pôster do meu maior ídolo, Wesley Safadão das quebrada’ underground, era o mesmo que o dele, nem podíamos ficar cara a cara! Sabia que ele não resistiria, e logo quis também me conquistar.
Depois de todo aquele papo de parafilia, deu um tiro de misericórdia: me arrastou para uma matinê, em que só era permitida a entrada de pessoas de até quinze anos. Ainda que juntando a idade de todos os presentes não desse nem a metade da nossa, somos verticalmente prejudicados, e não foi difícil penetrar o ambiente. Mais uma: elx era age player frequentador assíduo.
Tentei me integrar ao ambiente cantando Xuxa, mas os presentes não sabiam do que se tratava, o ícone de música infantil parecia ser sua filha, eu acho, uma tal de Sasha. Grey.
Elx aproveitou a deixa musical para me fazer uma proposta: “Uma sentada daquela nervosa, eu sei que tu gosta!” Comecei a agarrá-lo toda putinha e na primeira apalpada notei que ia precisar de ajuda pra segurar aquela barra, se é que me entendem. Mas qual foi minha surpresa?
Surgiu do nada uma mulher que misteriosamente também estava na meia-idade como nós, me agarrando inteira. Depois de severas bolinadas se intimidou, alegando que tinha me confundindo com a amiga, ainda que fosse imaginária.
Pensamos em ir para um lugar em que ficássemos a sós, como uma fila do INSS, mas, antes que fosse possível, uma ser humana mais louca que nossos ex juntos nos parou em um papo metafísico sobre colocar sêmen com mel sem mel na bebida dos outros e outras pitorescagens.
Ainda na saída, elx encontrou um amigo, e começaram lindamente a copular, ignorando a minha presença. Deus me livre baitolagem! Me vieram lágrimas aos olhos, aquele Bolsonaro interior gritando, e tomei a única atitude família tradicional brasileira acertada: agarrei a namorada do amigo delx.

Nenhum comentário:

Postar um comentário