Você me disse algo como: “Se não fosse bizarro não seríamos nós.” Está guardado aqui, mas não vou procurar o certo agora. [Está tudo guardado de alguma forma.] Isso é total verdade. Mas não é nosso único padrão. Nós nunca nos despedimos. Já reparou? Nem no dia que nos conhecemos, nem nunca. Interrupção e continuidade.
Mesmo quando saímos brigados, com uma expulsão que cada um insiste em dizer que partiu do outro, ou quando está tudo bem (eu deveria enumerar, porque tudo bem entre nós dois também é sempre relativo). Nós sempre saímos como se fôssemos nos encontrar cinco minutos depois, mesmo sem fazer ideia de quando e se isso vai acontecer.
E eu gosto.
Sabe, fico pensando em nós dois e naquele filme bobo com o Ashton Kutcher, De repente é amor. Não vivemos tantos anos nos nossos hiatos quanto aqueles personagens, mas tivemos os nossos hiatos. Tivemos nossas ebulições e nossas escuridões. Coisas passaram, sentimentos se misturaram.
É um reconhecimento, não é? Às vezes eu procuro soluções. Às vezes eu procuro não pensar. Às vezes o pensamento me invade, e é bom. Às vezes eu só finjo que o pensamento não está ali. Mas eu sei que ele nunca foi embora. Às vezes eu me convenço, ou quase, de que é só meu típico jeito de perverter a realidade. Às vezes eu procuro racionalizar o que nunca vai ter razão, porque amar é total erro. Amor é desvio de percurso. É tropeço. Pecar vem mesmo de tropeçar, etimologicamente, e não tem como existir amor sem pecado. Ele é todo transgressão.
Eu tenho às vezes aquele desejo louco de amor em outdoor, sabe? Aquela coisa toda de pichações de muros pela cidade, músicas em tom menor e um suborno para a locutora do aeroporto fazer uma declaração por mim. Mas antes fosse só isso.
O que fode tudo é eu querer te amar nos meus silêncios. Quando o amor é sutil e mudo é tão mais lancinante; e é isso. Quero amar você escondido, baixo. Só para mim, como aquilo que é o maior segredo de tudo que sou. Sibilante. Sinuoso. Somático. Mas Spinoza sabia que corpo e alma não se separam, são o mesmo. E aí?
É irônico, eu sei. Porque só escrevo você. Eu escrevo você o tempo todo, mesmo quando não vai para o papel. Repare que é assim mesmo, transitivo direto. Como a necessidade mais óbvia, dada por uma regra qualquer. É que, de algum jeito, você me continua.
Mas o que a escrita expõe é o mesmo que cala. E eu quero te transgredir nessas entrelinhas. Do sigilo confessional. Dos códigos dados. Das nossas maneiras bizarras e sem despedidas.
Ah, Elizabeth, se essas madrugadas fossem nossas…
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