25.9.17

Uma mão lava a outra

“Provavelmente meus ávidos leitores devem esperar por uma narrativa de uma boa foda ou de uma cravada na minha dignidade, uma história de furada. É verdade. Tenho muitas desse tipo pra contar ainda, mas em outras ocasiões. O 7×1 da vez foi de outra ordem, o que não deixa de ser uma derrota daquelas. Vamos então nos embebedar neste conto? Bora?!?
Decidi no início da semana ir a uma baladinha. Comprei os ingressos, chamei os amigos. Vez ou outra, um deles dava pra trás.  Era um tal de “vô” “num vô” que eu já tava ficando puto. Da Tijuca, no dia da festa, peguei um uber caríssimo, gente, tarifa dinâmica é o ó. E pra onde, irmãs? Algústica, claro.

Era noite de sábado, encontrei quem  fortalecia a zero da madrugada. E fomos fazendo. Valentina chegou toda gostosa de vestidinho, boca toda carnuda e preta, parecia algum dos Kiss’s, aquele monumento. Já cravei logo um beijo. Ela foi pega de surpresa mas não recuou. Que beijo! Foi muito bom ficar com cara de palhaço borrado com o batom dela em minha cara.
Quando dei defeito e beijei Vally, já estava bem alterada. Apenas uma caipirinha na cara, outra na mão. E todo sentimento do mundo. Eu tava ali porque queria extravasar todo meu ódio por algumas merdas no trabalho e, claro, toda minha vontade acumulada (total de 1 mês) de rebolar a raba na balada. Amo/sou.
Foi uma pena não ter saído como nos meus planos. Não esperava que eu poderia acabar dando o que eu nunca dei um dia: pt. Mas segue a estória (cunho o estranho termo porque, depois de ontem, o uso deste vocábulo é análogo à minha dignidade: caiu em desuso, quase não existe mais).
Do lado de fora da boatchy ainda, eu alternava goles de skol beats vermelha com beijos de Luca. Eu não me lembro muito disso, mas Valentina tá aqui do meu lado pra completar esta história e diz que assim aconteceu. Acreditemos nela.
Do lado de dentro da boatchy, nos poucos minutos que fiquei ali antes da tragédia, não mais que meia hora, friso, comecei a me pintar com tintas de neon. Vally e eu ficamos bem barbies e partimos pra pista do terraço, pra nos juntarmos a um amigo meu, Luca, e seu primo na dança. Conseguimos ainda tirar uma foto com legenda “Procurar outro Matheus”, crítica ferrenha misturada de indireta de Facebook a um macho por quem ela se apaixonou na última balada. Librianos…
Rolaram uns pagodes e outras coisas mais. Não sabia distinguir que música era, quem cantava. SPC? Alexandre Pires? Martinho da Vila. Não sei. Só queria rebolar. Vally disse que em um momento estava tocando Alexandre Pires e eu comecei a gritar que a música era da Alcione. Não bateu no bico. Depois da introdução, a música era a regravada por Alexandre, mas na voz da marrom. Quem disse que bêbado não tem seu lado místico?
Me distraí com aquilo até a hora da minha performance: a dança da passiva. Meu amor, quando eu mexo meu corpo ao som da sanfoninha. Não tem sim ou não que impeça. Os boy vêm tudo caindo em cima. E se não vêm, eu vou lá e cravo. Mas nada ainda. Nenhum funk e eu toda doida. Engraçado que eu sentia a vibe mas não estava tonto, enjoado, nem cansado. Só queria meu funk, poxa!
No meio da pista encontrei Tais. Uma colega da universidade, twitteira de classe. Sério, gente. Ela me abraçou, me beijou, mas nem sabia quem era até o exato momento em que  pronunciou a primeira palavra perto do meu ouvido. Eu gritei pra cacete: é Tais, é Tais. Estava felizaço por alguns dos meus sentidos ainda estarem funcionando àquela altura do campeonato. Isso seria muito útil depois.
Depois desse abraço, resolvi partir pra um novo ataque. Eu acho novo porque na minha mente precisava dar o primeiro beijo no Luca. Mas Valentina me jura que eu já tinha pegado ele – e pra caralho – do lado de fora, como já disse, e tampouco lembro. Sinceramente, não recordo mesmo, gente, enfim…
Comecei a agarrar aquele boy que eu ansiava beijar desde 2015. Olhos claros, altíssimo. Nós éramos amigos virtuais. Tenho um crush gigante nele. Queria matar a vontade que sempre externamos por teclados em sexo virtual. Sim, a gente sempre se masturbava falando pelo telefone. Há boatos de que fiquei gritando na festa: Esperei por isso desde 2015.
Passaram-se alguns minutos – agora começa a derrota, gente, peguem as piPocas –, Luca me chamou pra dar uma volta, ir pra pista com ar-condicionado. Fomos de mãos dadas tentando chegar lá. Tentando, né? O que não aconteceu comigo de pé, vocês saberão. Foi nessa hora mesmo que meu barco desabou. A casa caiu pra mim. Prestem atenção.
Ao descer as escadas me deu uma vertigem. Eu não sei como, mas me bateu um frio pelo corpo e eu sentei nas escadas. Luca rapidamente comprou algo para eu comer. Cheguei a engolir um salsichão (não disse por onde) só não deu muito certo. Comecei a vomitar horrores. Tudo que estava dentro de mim saía como água. E como saía.
Luca estava preocupado. Em seguida chegou Valentina, a guerreira da noite, perguntando o que estava acontecendo. Eu estava desolado botando tudo pra fora e não tinha previsão de parar. A amiga já falou logo: se tá assim  há bastante tempo não dá mais, gente, vou ter que levar pra casa.  Sério, não me lembro de muita coisa, mas o que segue após são apenas leituras que faço de flashes de memória e reprodução dos áudios que enviamos pros amigos.
Foi tudo muito intenso ao mesmo tempo que rápido. Lembro de um segurança me agarrando, a pedido de Vally, e levando pra baixo das escadas. Eu ouvia a voz dela o conduzindo, então deixava — como se eu tivesse vigor pra protestar algo, caso não concordasse, né? Virei pra ela e perguntei: Tá com minhas coisas? E ela: Tô! Fui deixando. Quando me dei conta já estávamos fora da boatchy.
Valentina me pedia pra ficar sentado apoiando-se em suas pernas, mas eu caía constantemente. Ela precisava chamar um táxi, porque estava sem celular, mas não conseguia me largar. Eu só caía. Caía… E vomitava ainda mais. Teve uma hora que me joguei no chão e pedi pra que me deixasse ali. Tava no meu lugar, lugar que já assimilei, o chão da derrota. Vally, então, me largou pra tentar ajuda antes que eu entrasse em coma.
Cogitaram ambulância, hospital, tudo, as pessoas por perto que falavam com ela. Sabem como é sus né, gente… Sem condições! Eu ia morrer ali meta e literalmente falando. Mas nesse momento, é importante ressaltar, Vally fez algo inenarrável. Ela quebrou um ciclo da vida, alcançou o que nenhum libriano jamais ousou: tomou rapidamente uma decisão. Lembrou-se do meu celular, meteu a mão nas minhas calças. Me fez desbloquear a tela. Como fiz isso? Não sei, mas fiz. Deixei o aparelho e Vally todos sujos de vômito.
De repente já tinha um uber a um minuto do local. De repente, tinha um macho com ela me carregando e me dizendo: “Você precisa ficar direito, cara, o uber tá vindo, fica em pé”. Embora eu não tivesse forças, nem vendo nada muito bem, conseguia sentir o desespero de Vally dando muito esforçadamente conta de mim. Tentei resistir à fraqueza pra seguir os conselhos do rapaz, mas o primeiro uber passou direto. Nos viu e cancelou a corrida.
Só derrota né, amigos? Mas nunca é pouco. Enquanto eu tava caído, veio a cravada da noite. A cereja do bolo. O salafrário do cara no meio daquela situação toda começa a cantar a minha amiga. Anão! Ele pede pra ficar com minha amiga? Mesmo ela estando totalmente desnorteada (e bêbada também né, amores?)? Cuidado de mim, me escorando? “Uma mão lava a outra”: Ele crava após a ajuda que havia nos dado. Ela o ignora (sem condições né? Aproveitador…) e me joga dentro do segundo uber, que felizmente, dessa vez parou pra gente.
O motorista do uber ficou assustado: “Ele vai vomitar aqui, menina”. “Não vai não, amigo, ele já parou”, ela mandava o caô. Como o motorista era prevenido,  já retirou um saco e deu na mão de Vally. Não sei como isso ocorreu, só lembro dela me dar um saco na mão e pedir pra eu vomitar nele. Eu pensava naquela situação e queria minimizar minhas merdas. Foquei toda minha energia restante pra só vomitar no saco. Deu certo.
O motorista ia devagar. Minha amiga o apressava: “Vamos logo, moço. Precisamos chegar logo.”. O motorista vira e fala: “Se eu correr ele vai ficar mais enjoado, menina. Ele vai ficar tonto, vai vomitar.”. Meu deus, quantos envolvidos! O perfeccionista pelo menos conseguiu não decepcionar o público. Não vomitou fora do saco. Que vitória!
Chegamos na porta da casa da Vally. Ela rapidamente sai do carro e pede ajuda a um dono de bar perto do prédio em que mora. Ela ainda acrescenta, aqui do meu lado, escrevendo: “A porra do homem ainda era non sense, cara. Pedi ajuda, me crava, ‘Tá bom, vou ajudar, eu moro aqui há 20 anos’. Fiquei meio ???????”, relata indignada Vally.
Após entrarmos no prédio, minha amiga pediu açúcar ao porteiro. Ela lembra de que não tinha em casa e glicose seria essencial. Lembro-me desse lapso, eu dentro do elevador caído, ela com a xícara na mão e me segurando. Que fase!
Depois disso, não me vêm muitas coisas à mente, senão eu jogado no box pelado. Nem sei quando foi que tirei/tiraram minhas calças. Vally ainda comenta aqui: “Você não ficava no centro do chuveiro, cara. Eu tive que encher o balde pra tacar água em você. Limpar seu vômito pelo corpo.”. Não bastasse essa moral toda de ontem, Vally ainda lavou minha roupa. Heroína é heroína, né? Fungava nela que nem pó.
8h35 AM: eu acordo todo tonto. Pés, dedos ralados. Uma vontade grande de não saber o motivo de eu estar todo ferrado. Mas infelizmente, eu sabia. Com flashes, lapsos, eu sabia. E sou muito grato a tudo que Vally fez por mim. Ao final da escrita do conto, revisando-o com Vally, ela me crava: “Tem mais coisa pra contar?” Perguntou pra mim! Logo eu, a desmaiada da noite!
Ficam pra nós grandes lições dessa noite. Algumas de que tão cedo não quero me lembrar! Mas a maior delas, meus amigos, é sobre a parceira nos momentos de derrota. Eu tive uma prova de Valentina. E um conto: Uma mão lava a outra!”

Escrito por Ariel, publicado originalmente em seu blog, “Clube da Puta“.

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