Eu só queria ficar sozinha quando ela apareceu.
Trazia um homem por uma coleira e aquilo parecia um jogo de forças. Talvez ele fosse brat ou um SW que perdeu algum tipo de aposta; mas sub com certeza não era.
Eu brincava com uma das velas que decoravam a festa, na área de fumantes, que, provavelmente devido à apresentação de shibari lá dentro, estava vazia. Era o quintal dos fundos da casa em que sempre faziam esses eventos.
Eu gostava de observar. E ficar comigo mesma como alguém que só observa.
Os mais refinados associam esses comportamentos ao flâneur. Eu chamo de, bem, eu chamo mesmo de ficar sozinha fazendo conexões mentais com pouco sentido.
Eu tinha acabado de fazer uma linha de cera no meu braço inteiro. A cera já estava líquida de tão
quente, o que fez minha pele ficar vermelha no mesmo instante. A dor é algo curioso. Você só a sente
quando de alguma forma já a conhece ou tem o mínimo de consciência. Uma lacuna psicológica interessante da nossa fisiologia.
Ela fechou a expressão quando me viu. Aquele jogo não permitia plateia. Mas os meus devaneios também não. Seu desagrado se traduziu em falar qualquer coisa para o “encoleirado”, que logo saiu. E a deixou em pé ali. Saia curta de látex preto e botas. Tão clichê.
Meu descuido involuntário de revirar os olhos fez com que ela se aproximasse sem que eu percebesse.
“Você é uma submissa intrigante”, falou com certa superioridade. “Não sou submissa”, devolvi, me
levantando para encará-la. Éramos da mesma altura. Ela deu um meio sorriso e se apresentou. Eu queria dar um corte naquela interação, mas meu senso de sociabilidade não permitia. Não era só isso, é claro. Eram seus cabelos escuros ondulados caindo no ombro. Seu nariz afilado e suas sobrancelhas sem fazer. E suas sardas e seus óculos.
Não demorou para que eu ignorasse os clichês. As vozes distantes e sua pretensa Dominação, que ela
pareceu ignorar também. Eu a beijei puxando seus braços para trás. Foi um teste. Ela resistiu, mas cedeu.
“Eu sou Domme, moça”, disse ao se soltar de rompante e dar um tapa estalado na minha cara. Sua
mão latejando ainda segurando meu rosto. Peguei em seu braço de impulso, mas a verdade é que gostei. Senti aquele típico calor me invadir. Irradiava. Ela gostava do embate. Eu sempre fui dada a guerras.
Minhas mãos foram involuntariamente pra sua bunda assim que ela me beijou, apertei com força. Ela
mordeu minha boca. Era a deixa. Eu a virei contra uma mureta, puxando seu cabelo. Senti ela amolecer. Puxei meu paddle que estava preso na barra da calça e bati uma vez. Ela estremeceu sob meu domínio, se debatendo devagar.
“Eu vou continuar...”, falei em seu ouvido e ela assentiu. Agora mordia meus dedos da outra mão com força; doía. Cheguei a sentir o sangue escorrer antes de bater nela de novo.
Nosso cabo de guerra estava só começando.
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