Destino ninguém muda.
Sempre foi uma frase que mexeu comigo. Me dava asco, era isso. Porque eu sempre preferi a ilusão do controle. Mas eu sabia que ali havia um fundo de verdade. Isso misturado à máxima de estar na hora certa, no lugar certo. E minha história com Francisca retrata isso com uma precisão tão literal que me faz ter arrepios ao ouvir aquela bendita palavra.
Destino.
Era aniversário de um colega de trabalho e ele queria comemorar em uma boate de suingue, precisamente a que eu frequentara meses a fio em função do mestrado.
Não, não era só o mestrado. Mas eu não pensava em voltar lá nem tão cedo por diversos motivos. De qualquer forma, não seria o chato estraga prazeres mal tendo entrado na equipe. Chamei o amigo mais afeito ao trash e fomos. O Fulano resolveu que só comemoraria no dia seguinte, que era o dia do aniversário, mas eu já estava pelejando na barca. Assim que cheguei, um dos meus motivos de escusa já me recepcionou com um beijo ávido.
– Oi, Luíza.
– Sumido! Saudade de você. – Me deu a piscadinha clássica que traduzia tudo, tentando se empoleirar no meu pescoço.
Me desvencilhei e fui esperar Antônio em um bar nas proximidades. Eu precisava ligar para Eunice, minha cartomante, e relatar o que tinha acontecido na sexta, quando encontrei Alexandra, uma ex que me perturbava catastroficamente, mas o celular, sempre me deixando na mão, arriou a bateria.
Consegui carregar à base de gambiarra e fiz a consulta sentimental. Sim, eu “tenho” uma cartomante, fazendo jus às minhas raízes de subúrbio. Eunice fora proprietária de terreiro, ou, no popular, era mãe de santo, e costumava me aconselhar quando a situação era desesperadora. Eu sempre falo que quando cai o avião ninguém é ateu ou hétero, mas a verdade é que Nietzsche tinha razão.
Não existe ceticismo perante o amor. E a prova disso me surgiria dali a algumas horas.
Comi com Antônio e fomos para o Clube. Acostumado com o toque de Midas na minha vida, falei pra ele que pelas minhas impressões aquele dia não resultaria em literatura. Que ironia. Eu poderia ter reescrito Os Lusíadas, com uma Téjide muito melhor, diga-se de passagem.
O Clube costuma fazer um apagão; claustrofóbico e hipocondríaco, prefiro evitar essas situações. Para mensurar o péssimo nível da boate, o ambiente que parecia mais acolhedor neste momento era a área dos armários, em frente ao banheiro, que neste dia estava especialmente caprichado com o fedor de naftalina, o que me trazia péssimas lembranças da infância: livros cheirando a naftalina.
Sempre gostei de livros. Mas não aliviava a infância ou o ambiente familiar inevitável. Irônico pensar que ali li Freud.
Antônio estava conversando com a faxineira que ficava na entrada dos banheiros, eles tinham entrada única. Eles riam conversando qualquer coisa sobre chicotear estranhos – coisa que estávamos fazendo – e signos. Segno, em italiano e latim, de onde veio disegno, ou desenho. De onde veio também sinal.
Sinal é mais uma palavra ambígua e, como todas as coisas ambíguas, ingrata. Me virei para entrar no banheiro e dei de cara com Francisca, saindo. Eu a achei completamente insignificante. Do latim, sem “sinal”. Só mais uma mulher qualquer, em uma boate de suingue. E boate de suingue pra mim sempre foi um universo paralelo, por mais que Francisca soubesse o que era uma senoide ou quem fora Hemingway.
Nos envolvemos em uma foda.
O olhar dela cravado no meu enquanto dava para o meu melhor amigo. Se eu fosse estruturalista, diria que, hoje, tenho uma sensação bem próxima à do protagonista necrófilo de seu conto. É, eu sou estruturalista. Nos envolvemos com gérberas e café italiano. Nos envolvemos com suor e arte. Nos envolvemos sem escrúpulo algum, de um jeito baixo, indo contra toda decência do magnífico decoro social. E, para tudo ser ainda mais sujo, tratamos como se fosse nobre. Francisca era casada.
Do jeito que as coisas têm que ser. E bem casada, embora nunca fosse assumir pra mim. Nos envolvemos. Mas o abismo entre nós era implacável. Inadiável. Gritando à espreita em cada esquina. Sufocador. De alguma forma, nos alimentava. Não fosse isso, nada teria começado. Por causa disso, o prazo de validade era concreto.
Tudo tem prazo de validade na vida, basta escolhermos enxergar ou não, mas algumas coisas conseguem materializar isso de uma forma bastante cruel. Áspera. E essa era o protótipo por antonomásia delas.
Eu estava fazendo café, me assustei com a porta abrindo. O porteiro já nem anunciava mais a sua chegada. Francisca. Os cabelos ondulados enormes na altura da barriga trincada. A boca larga. O nariz afilado e o olhar ligeiramente vesgo. A pele exalando perfume barato me deixava de pau duro instantaneamente.
O susto da sua chegada repentina somado à imagem daquela mulher secaram minha garganta. Revirei os olhos sentindo sua boca no meu pau.
Ela sempre fazia isso. Conhecia todos os meus botões. Todos os meios de me deixar maluco e completamente entregue. Nem me cumprimentava, já caía de boca, engolindo o meu pau inteiro, me masturbando enquanto chupava a cabeça com força. Dessa vez ela nem se deu ao trabalho de fechar a porta.
– Francisca…
– Que saudade de chupar você.
Falava de boca cheia. Me dava um pouco de vontade de rir todo aquele ímpeto sedento. Joguei ela de quatro no sofá. Jogou a cabeça pra trás. Eu não vi, mas tenho certeza de que revirou os olhos. Ela sempre faz isso quando eu a pego com força. Mulher gosta mesmo de apanhar.
Deslizei pela sua nuca pra segurar os seus cabelos, meti o pau inteiro naquela buceta que estava completamente molhada. Me senti inteiramente engolido, ela me apertava. Enfiei a cara nos cabelos de Francisca, eu ainda os segurava. O cheiro de tesão na sua pele estava tão forte que eu tinha a impressão de que nunca mais se desgrudaria de mim.
Ela prendeu meu pau na buceta e começou a rebolar, me jogava de um lado pra outro dentro dela, tendo total controle sobre mim. Por que o sexo era tão incrível com aquela mulher? Química é foda. Foda. Senti Francisca deslizando pra frente.
– Mete tudo no meu cu.
Ela ordenava. Vacilei por um momento com aquela ordem. Senti que ela puxava meu pau já colocando no seu cu. Se contorcia, gemendo. Segurei forte em sua cintura, puxando bastante ela pra mim e gozei tudo dentro dela.
A esporrada subiu em um arrepio que esquentou meu corpo inteiro. As pernas bambas. Completamente.
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