16.1.18

Eu falo de amor à vida; você, de medo da morte

Acendo um cigarro, o cheiro insuportável da fumaça preenche a sala, se misturando à chuva anunciada. O Neil Young que toca na vitrola me traz a paz dos fantasmas já reencarnados e libertos.

A música em tom maior vem me mostrar que todas as cartas estão na mesa. Há sempre a opção de desistir do jogo. Mas as apostas não são assim tão voluntárias, e toda consciência é desenhada pela ilusão.

Andei ocupado vacilando por lugares desconhecidos, que, calados, se recusaram a me dar respostas. Agora respiro as paredes do cotidiano. Os ventos que me abrigam são os mestres da santa ordem.

Tudo em seu lugar são as portas do caos total, e eu rio. Persigo sombras, ainda, incerto se assim permanecerei. Sou fronteiras, sou ilhas, sou imprecisas oscilações. Sou tudo o que não se estabiliza. O corte categórico que me julga também me estapeia, dizendo o quanto há razão em sermos estranhos.

Lúcido das limitações do agora, do quanto estar no olho do furacão turva os horizontes. E me resta a risada. Me restam a música, a fumaça, o pensamento. Todos são sólidos em seus parcos momentos, e então se dissipam, como se nunca tivessem existido.

Comigo, tenho somente minha aposta solitária e cega. Porque a verdade é que você só sabe se foi azar ou sorte... depois que já não faz a menor diferença, e passa.

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