30.1.18

O simétrico e o improvável - parte 1

As combinações improváveis são as mais traiçoeiras, e foi em uma delas que me vi enredado em você.

Tocava uma versão malfeita de Journey e você me ofereceu o pacote de biscoito que estava no parapeito da janela quando percebi.

Não foi nada disso. Talvez o baseado que você não sabia enrolar ou as botas no volante do meu carro na primeira vez.

Não saberia precisar o momento, se é que houve um isolado. Mas foi ali que me dei conta. Você gargalhando com as bochechas vermelhas limpando o farelo da boca quando falei que você ia foder minha cabeça. Mas quando a gente percebe o risco, é porque já não tem mais volta. Você não acreditou.


Na pessoalidade do seu quarto, seu mundo parecia tão fácil, tão dado. Foi um súbito engano, seus olhos de brilho otimista têm esse dom. E ninguém acreditaria no abismo que eles guardam, bem sabe o compositor que transformou seu nome em música, aquele que você detesta.

Naquele quarto de móveis de segunda mão e músicas com um instrumental terrível, descobri um desconjuntado nós.

Você, das bebidas com pouco álcool dentro do apartamento. Eu, das longas viagens de moto. Você, de paisagens de sol no Arpoador. Eu, de noites maldormidas entre cocaína e acordes virtuosos de guitarra.

Cada um lida como pode com as suas solidões, mas as nossas de alguma forma passaram a se fazer companhia.

"Some were born to sing the blues. Oh, the movie never ends."

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