Não vou mentir pra você, falar que se você sair com seus amigos, ficar com outras pessoas ou assistir à sua série preferida você vai esquecer.
Não vou mentir pra você que se você ouvir uma mínima referência que seja não vai doer, ou que isso passa logo. Não é assim que funciona.
Não vou mentir pra você que vai ficar tudo bem quando você trombar com ele mexendo no celular na mesma lanchonete que vocês iam, quando tocar aquela música que nem deu tempo de você mandar pra ele ou você sentir sem aviso a lembrança do toque da mão dele.
Vai doer tanto que você só vai perceber que chorou quando a lágrima já tiver corrido sem nem dar aviso. E isso ainda vai acontecer muito e por muito tempo.
Mas passa.
É, é isso. Não importa o quanto queime agora, o quanto dê um nó forte dentro de você, parecendo que seus órgãos trocaram até de lugar. Vai passar.
28.2.18
26.2.18
O carma da solidão
Uma vez me disseram que há pessoas que nasceram pra ser sozinhas e fui automaticamente obrigada a concordar. O que me levou a balançar a cabeça em aceitação de imediato foi o rápido panorama mental que me veio da minha vida.
Alguns chamam de vocação para a solidão; outros, de escolha. Eu chamo de carma. Somos seres sociais e, ainda que a ode ao individualismo cara aos nossos tempos o faça bater no peito se orgulhando de dizer por aí que se basta e toda essa baboseira de amor-próprio – que de amor-próprio não tem nada -, olhe à sua volta: em inúmeros sentidos, nós precisamos do outro.
Mas precisar do outro, em termos simbólicos, não é necessariamente de qualquer outro, e aí vem o limbo que permite falaciosas autoafirmações, filosofias de pós-graduações e textões formadores de opinião do Facebook.
Não é opção preferir ser sozinho se a vida não te faz cruzar com que te compreende. Não é opção preferir ser sozinho quando todo mundo já te traiu. Não é opção preferir ser sozinho quando somente assim você encontra segurança e paz. É carma.
Alguns chamam de vocação para a solidão; outros, de escolha. Eu chamo de carma. Somos seres sociais e, ainda que a ode ao individualismo cara aos nossos tempos o faça bater no peito se orgulhando de dizer por aí que se basta e toda essa baboseira de amor-próprio – que de amor-próprio não tem nada -, olhe à sua volta: em inúmeros sentidos, nós precisamos do outro.
Mas precisar do outro, em termos simbólicos, não é necessariamente de qualquer outro, e aí vem o limbo que permite falaciosas autoafirmações, filosofias de pós-graduações e textões formadores de opinião do Facebook.
Não é opção preferir ser sozinho se a vida não te faz cruzar com que te compreende. Não é opção preferir ser sozinho quando todo mundo já te traiu. Não é opção preferir ser sozinho quando somente assim você encontra segurança e paz. É carma.
A imperfeição de se conhecer
Certas conversas parecem preparar armadilhas para que voltemos a nos prender em reflexões pouco exploradas. O único resquício de realidade na nova pintura do vizinho aprisionou meu olhar numa arapuca novinha. Em meio ao cinza monocromático das paredes externas, enxerguei um longo rastro de tinta, deixado por um pingo que deliberadamente escorregou do teto ao chão. Formou a estria que atribui unicidade a um todo absolutamente sem graça, a estria que marca a imperfeição do trabalho e o aspecto cada vez mais satisfatório e real daquela transformação.
A gota mostra o histórico da sua tragetória, deixa-o escancarado para todos que o quiserem ver. Está lá, do alto ao baixo, do início ao fim. Como num daqueles cubos que desenhamos no papel, é difícil escolher a perspectiva que mais nos agrada. O pingo ou o rastro? O rastro ou o pingo? Talvez uma mistura dos dois, um gif artificalmente criado pelas mentes mais imaginativas. No fundo, não importa se será grande ou pequena, simples ou espalhafatosa, a imperfeição é o que delimita um fundo de verdade nas criações que supostamente deveriam ser perfeitas.
A gota mostra o histórico da sua tragetória, deixa-o escancarado para todos que o quiserem ver. Está lá, do alto ao baixo, do início ao fim. Como num daqueles cubos que desenhamos no papel, é difícil escolher a perspectiva que mais nos agrada. O pingo ou o rastro? O rastro ou o pingo? Talvez uma mistura dos dois, um gif artificalmente criado pelas mentes mais imaginativas. No fundo, não importa se será grande ou pequena, simples ou espalhafatosa, a imperfeição é o que delimita um fundo de verdade nas criações que supostamente deveriam ser perfeitas.
21.2.18
Ela era puta
Ela era puta. Na acepção real do termo, redução de prostituta, aquela profissão mais antiga do mundo. Era famosa por ter infartado dois só com um lap dance na boate em que fazia strip.
Entre máscaras, nomes falsos e renda enfiada no cu, era ela a que povoava as indômitas punhetas pela cidade. Era ela a dos delírios de "e se" das mulheres e de "eu pago, eu tenho" dos homens. Era ela jogando tequila pelo corpo nas boates do subúrbio e prosecco naquelas mais abastadas. Era ela a rainha das ereções e dores no saco, era ela atiçando, era ela a que detinha esse tipo de poder [falso] que as pessoas gostam de achar que o sexo tem. Esse medo pueril de que elas podem ser dominadas pelo sexo, controladas, atadas, por esse tipo de buceta mágica.
Valeska que me perdoe, mas sua pussy não é o poder.
Ela era puta. Ela era famosa por ter infartado até um fotógrafo que, desavisado, só fazia fotos do salão do bar quando se deparou com ela. Nem um show era, não precisava. Estava de óculos e bebia Nescau enquanto lia suas xerox da graduação. Mas ela emanava aquele lado B do sexo cósmico até cagando.
Two girls and one cup que me perdoem, mas até pra escatologia é preciso ter certa dose de classe.
Ela era puta. Mas seu coração era triste. Nas madrugadas, olhando da janela o vazio da cidade, riscava decassílabos em um caderno que ela havia customizado. Fotos e desenhos que fazia de amores passados, mas que tanto ainda a atormentavam. Versos necessários, premeditados, engasgados. Guardados. Ninguém entendia.
Saber usar o mais-que-perfeito não deixa ninguém de pau duro. E ela era puta.
Entre máscaras, nomes falsos e renda enfiada no cu, era ela a que povoava as indômitas punhetas pela cidade. Era ela a dos delírios de "e se" das mulheres e de "eu pago, eu tenho" dos homens. Era ela jogando tequila pelo corpo nas boates do subúrbio e prosecco naquelas mais abastadas. Era ela a rainha das ereções e dores no saco, era ela atiçando, era ela a que detinha esse tipo de poder [falso] que as pessoas gostam de achar que o sexo tem. Esse medo pueril de que elas podem ser dominadas pelo sexo, controladas, atadas, por esse tipo de buceta mágica.
Valeska que me perdoe, mas sua pussy não é o poder.
Ela era puta. Ela era famosa por ter infartado até um fotógrafo que, desavisado, só fazia fotos do salão do bar quando se deparou com ela. Nem um show era, não precisava. Estava de óculos e bebia Nescau enquanto lia suas xerox da graduação. Mas ela emanava aquele lado B do sexo cósmico até cagando.
Two girls and one cup que me perdoem, mas até pra escatologia é preciso ter certa dose de classe.
Ela era puta. Mas seu coração era triste. Nas madrugadas, olhando da janela o vazio da cidade, riscava decassílabos em um caderno que ela havia customizado. Fotos e desenhos que fazia de amores passados, mas que tanto ainda a atormentavam. Versos necessários, premeditados, engasgados. Guardados. Ninguém entendia.
Saber usar o mais-que-perfeito não deixa ninguém de pau duro. E ela era puta.
20.2.18
Matheus
Quando você me disse seu nome, não achei que combinava tanto contigo. Era muito comum. Acham-se Matheus em qualquer esquina. E ali, desde a forma como nos apresentamos, comum foi tudo o que não fomos.
Não falo por causa da sua camisa, seu cabelo ou suas piadas metidas a únicas. Tudo isso ainda é mais do mesmo. A diferença hoje em dia, nos nossos tempos de memes e redes sociais, é banal. Todo mundo é diferentão.
Você não foi comum porque você me tirou daquele estado de naturalização que faz com que a gente olhe tudo com o olhar do tédio do cotidiano, que nada se destaca. Você me sacudiu, você estremeceu quem eu era. Você me fez reparar em você.
E tudo o que era tão comum em você, como seu nome, são esquinas que só serviram pra me estapear com a realidade da vida: comuns somos todos, o que faz a diferença é a forma como nos relacionamos, como acontecemos na vida uns dos outros, como nos olhamos, as brechas ou portas escancaradas que (não) deixamos, como nos fazemos ficar, como ficamos por acidente.
Esse desnível é foda.
Não falo por causa da sua camisa, seu cabelo ou suas piadas metidas a únicas. Tudo isso ainda é mais do mesmo. A diferença hoje em dia, nos nossos tempos de memes e redes sociais, é banal. Todo mundo é diferentão.
Você não foi comum porque você me tirou daquele estado de naturalização que faz com que a gente olhe tudo com o olhar do tédio do cotidiano, que nada se destaca. Você me sacudiu, você estremeceu quem eu era. Você me fez reparar em você.
E tudo o que era tão comum em você, como seu nome, são esquinas que só serviram pra me estapear com a realidade da vida: comuns somos todos, o que faz a diferença é a forma como nos relacionamos, como acontecemos na vida uns dos outros, como nos olhamos, as brechas ou portas escancaradas que (não) deixamos, como nos fazemos ficar, como ficamos por acidente.
Esse desnível é foda.
19.2.18
Quem vai colocar a mão na lareira?
Eu queria que as coisas fossem diferentes, mas eu não queria que você fosse diferente. Eu não quero mudar você. Eu quero descobrir; mas mudar, não. E se essa é a condição para que as coisas sejam diferentes, que assim permaneçam, então.
Um dia eu vou respirar de novo. A gente se acostuma com esse ar rarefeito mais rápido do que imagina.
Eu gostei de você assim, da forma como me foi apresentado. Escuro, pesado, arrastado, nebuloso, caótico, instável. Muitos e nadas em constante guerra. Excessos descontrolados e ausências que parecem infinitas. Uma tentativa de respirar e ser manso e superficial contornando bem por fora isso tudo. Muros… de vidro. Alegoria da incompreensão alheia.
Escritores desviam na regência verbal, sertanejos compõem rock, modelos têm celulite, nossos pais sentem medo, palhaços choram. Isso tudo é constitutivo, está bem longe de ser um choque de opostos. Mas as culpas não nos pertencem, nem deviam.
Sabe qual é a maior ingratidão nessa história toda pra mim?
Um dia eu vou respirar de novo. A gente se acostuma com esse ar rarefeito mais rápido do que imagina.
Eu gostei de você assim, da forma como me foi apresentado. Escuro, pesado, arrastado, nebuloso, caótico, instável. Muitos e nadas em constante guerra. Excessos descontrolados e ausências que parecem infinitas. Uma tentativa de respirar e ser manso e superficial contornando bem por fora isso tudo. Muros… de vidro. Alegoria da incompreensão alheia.
Escritores desviam na regência verbal, sertanejos compõem rock, modelos têm celulite, nossos pais sentem medo, palhaços choram. Isso tudo é constitutivo, está bem longe de ser um choque de opostos. Mas as culpas não nos pertencem, nem deviam.
Sabe qual é a maior ingratidão nessa história toda pra mim?
7.2.18
Você nunca seria o amor da minha vida
Quando vi você pela primeira vez, sentado no banco dessa praça, lendo um livro, com seus fones no ouvido, acho que de alguma forma eu já sabia.
Você era só um completo desconhecido com um rabo de cavalo desgrenhado cercado pelo canto dos passarinhos, e eu precisava atravessar a rua e ir para a minha aula de flauta.
Mas, de noite, o destino me surpreendeu colocando você naquela mesma festa que eu. Minha amiga implicava dizendo que você se parecia com algum conhecido nosso, e eu quis me exibir pra você, dizendo que também tocava, igual a você.
Você me fez uma pergunta elaborada sobre escalas, que, não sei como, envergonhada que eu estava com o desenho tão perfeito da sua boca, consegui responder.
Depois vieram várias coisas. Sua mão sem aviso nos meus cabelos me deixando sem graça. Cruzar o olhar com o seu sem querer durante a aula de dança que começamos a fazer juntos. Minha bochecha esquentando quando você pegou minha mão na saída do metrô. E eu prendi os lábios, em todas as vezes, pra você não perceber meu sorriso bobo. O mesmo que sai involuntário quando estou penteando seus cabelos negros.
Você era só um completo desconhecido com um rabo de cavalo desgrenhado cercado pelo canto dos passarinhos, e eu precisava atravessar a rua e ir para a minha aula de flauta.
Mas, de noite, o destino me surpreendeu colocando você naquela mesma festa que eu. Minha amiga implicava dizendo que você se parecia com algum conhecido nosso, e eu quis me exibir pra você, dizendo que também tocava, igual a você.
Você me fez uma pergunta elaborada sobre escalas, que, não sei como, envergonhada que eu estava com o desenho tão perfeito da sua boca, consegui responder.
Depois vieram várias coisas. Sua mão sem aviso nos meus cabelos me deixando sem graça. Cruzar o olhar com o seu sem querer durante a aula de dança que começamos a fazer juntos. Minha bochecha esquentando quando você pegou minha mão na saída do metrô. E eu prendi os lábios, em todas as vezes, pra você não perceber meu sorriso bobo. O mesmo que sai involuntário quando estou penteando seus cabelos negros.
6.2.18
Não toma um banho de chuva
Uma vez li uma frase no Facebook de uma amiga que levei pra vida: "Seu corpo é composto por 70% de água, então aproveita que tá toda molhadinha e vai ter tesão na vida."
As coisas são cíclicas e o tempo é o senhor das verdades, mas se você se deixa se levar por essa correnteza dos conformismos, os momentos passam... e se perdem.
Daqui a um ano, nesse mesmo dia e nesse mesmo horário, tudo vai estar completamente diferente, ainda que não pareça. Seu emprego pode ser o mesmo, sua casa, seu namorado, seus amigos e corte de cabelo. Ainda assim, tudo terá mudado. A tonalidade daquela tatuagem, a pintura da fachada do seu bar preferido, um arranhado nos óculos, aquela música que você não tinha escutado.
5.2.18
Ritornelo
Seus olhos de pentatônica facilmente me improvisam
E, como síncope, acordam do meu corpo tempos improváveis
Desnudam de mim os intervalos e os impropérios
De urgentes desejos e necessidades improrrogáveis
E marcam compassos, que, não fossem seus, seriam impróprios
A consonância que verte em arrepio minhas pernas
Torna axilas e cotovelos hereges sustenidos
De gemidos tocados em antigos pianos de tavernas
Em escala cromática que de imprecisas comas me governa
Pelo maestro que de precisos movimentos me rege
E, como síncope, acordam do meu corpo tempos improváveis
Desnudam de mim os intervalos e os impropérios
De urgentes desejos e necessidades improrrogáveis
E marcam compassos, que, não fossem seus, seriam impróprios
A consonância que verte em arrepio minhas pernas
Torna axilas e cotovelos hereges sustenidos
De gemidos tocados em antigos pianos de tavernas
Em escala cromática que de imprecisas comas me governa
Pelo maestro que de precisos movimentos me rege
4.2.18
Não vale uma Libra
Quem me conhece sabe o quanto signos são um assunto que me interessa. Quem me conhece mais, sabe o quanto acho isso tudo uma besteira.
Acho meio difícil enquadrar todas as pessoas em doze categorias tão estanques. Ou 144, considerando o ascendente. Ou (faz a conta pra mim e coloca o número aqui), se considerarmos sol, chuva, casamento de viúva.
Comecei a pesquisar signos quando fazia teatro. Ajudava a criar personagens, eu escolhia um signo que combinava com cada um e ia direcionando as características pra detalhar os perfis e a partir daí construir trejeitos, hábitos, reações etc. Mas, embora as coisas que aconteçam comigo pareçam ficção, a vida não me fez personagem. Mesmo assim, a vida me deu um signo: Libra.
Libra. Daqui, da tão tão distante Zona Oeste, posso ver o sorrisinho maldoso no rosto de vocês e a careta de repulsa no rosto de alguns (ok, de muitos). Libriano é foda! Inconstante, volúvel, superficial, indeciso, mulherengo, dissimulado, sem graça, fala muito, fora da realidade, se acha, não leva ninguém a sério e, interminável, a lista segue.
Acho meio difícil enquadrar todas as pessoas em doze categorias tão estanques. Ou 144, considerando o ascendente. Ou (faz a conta pra mim e coloca o número aqui), se considerarmos sol, chuva, casamento de viúva.
Comecei a pesquisar signos quando fazia teatro. Ajudava a criar personagens, eu escolhia um signo que combinava com cada um e ia direcionando as características pra detalhar os perfis e a partir daí construir trejeitos, hábitos, reações etc. Mas, embora as coisas que aconteçam comigo pareçam ficção, a vida não me fez personagem. Mesmo assim, a vida me deu um signo: Libra.
Libra. Daqui, da tão tão distante Zona Oeste, posso ver o sorrisinho maldoso no rosto de vocês e a careta de repulsa no rosto de alguns (ok, de muitos). Libriano é foda! Inconstante, volúvel, superficial, indeciso, mulherengo, dissimulado, sem graça, fala muito, fora da realidade, se acha, não leva ninguém a sério e, interminável, a lista segue.
3.2.18
175
Estava na barca, indo pra Niterói. Depois dessa, todas as histórias de terror são cantilenas de ninar. Pelo menos tinha tomada e eu podia ir dando match nos contatinhos pra garantir a noite do outro lado da baía. Sentei pra comer o pastelzinho de carne-seca já roxa frito em banha de três dias - #pás - quando reparei o DEUS GREGO do meu lado. Que homem! Cabeça raspada só de topete, regata colorida decotada até o umbigo, piercing no nariz... Uma tatuagem na careca "171".
Eu ri, claro, mas adorei o desprendimento. Não ia abordar o cara ali, né? Olho pro celular e quem me aparece no Tinder? O próprio! Notei que ele deu maior olhadão pra tela na hora, fiquei tão sem graça que o celular caiu no chão. Bem clichezão, ele pegou pra mim, com um sorrisinho de maldade. Começamos a conversar e daí em diante é história. Combinamos de sair pra beber dali a dois dias, quando ele podia.
Eu não vim nesse mundo a passeio, né, gente? No dia seguinte, continuei no Tinder dando ideia pra inúmeros contatinhos das mais variadas tribos. Tava gamadinha em um bem nerd, usava nome e sobrenome no endereço do Instagram e já fui logo revirando (pena que não ele...) Face, lattes que eu tô passando e por aí vai. O stalk foi tão profundo que achei o fotolog do cidadão! Tinha uma foto dele de cabeça raspada, época do exército pelo que parecia. Assim de cabeça raspada ele lembrava pra cacete o cara da barca.
Não, claro que não era o mesmo. Sou ruim de memória fotográfica, mas era outro. Mesmo tendo um 172 tatuado na cabeça. Parei naquela foto. Que porra de moda escrota é essa, gente? Olha que já usei tererê e crocs, mas ficar tatuando número assim na careca é seita? Tipo a seita que dói menos... Ou não, falam que tatuagem na cabeça dói.
Eu ri, claro, mas adorei o desprendimento. Não ia abordar o cara ali, né? Olho pro celular e quem me aparece no Tinder? O próprio! Notei que ele deu maior olhadão pra tela na hora, fiquei tão sem graça que o celular caiu no chão. Bem clichezão, ele pegou pra mim, com um sorrisinho de maldade. Começamos a conversar e daí em diante é história. Combinamos de sair pra beber dali a dois dias, quando ele podia.
Eu não vim nesse mundo a passeio, né, gente? No dia seguinte, continuei no Tinder dando ideia pra inúmeros contatinhos das mais variadas tribos. Tava gamadinha em um bem nerd, usava nome e sobrenome no endereço do Instagram e já fui logo revirando (pena que não ele...) Face, lattes que eu tô passando e por aí vai. O stalk foi tão profundo que achei o fotolog do cidadão! Tinha uma foto dele de cabeça raspada, época do exército pelo que parecia. Assim de cabeça raspada ele lembrava pra cacete o cara da barca.
Não, claro que não era o mesmo. Sou ruim de memória fotográfica, mas era outro. Mesmo tendo um 172 tatuado na cabeça. Parei naquela foto. Que porra de moda escrota é essa, gente? Olha que já usei tererê e crocs, mas ficar tatuando número assim na careca é seita? Tipo a seita que dói menos... Ou não, falam que tatuagem na cabeça dói.
2.2.18
Todos eles juntos num só ser
Não escrevo mais Raskólnikov nem Ivánovitch
Nem Míchkin nem Goliadkin do Fiódor
Nem o Diabo nem o Fidalgo do portuga Gil
Nem Gatsby nem Patch do maior
Já não homenageio Macário
Bertram, Gennaro, Solfieri de Azevedo
Nem Goku, o nipônico de Toriyama
Nem o forasteiro de Manuel de Macedo
Nem Ofir nem Apollo de marfim e prata
Nem o Poeta de Emiliano
Nem mesmo Dirceu de António Gonzaga
Os cativos do sertão pernambucano
Nem Sauron, o senhor do escuro de Tolkien
Nenhum continua nos meus planos
Nem Ebenezer Scrooge, de Charles Dickens
Nem o Xangô do Maximiliano
Só você, hoje eu escrevo só você
Só você, que eu quero, porque quero
Por querer
Nem Míchkin nem Goliadkin do Fiódor
Nem o Diabo nem o Fidalgo do portuga Gil
Nem Gatsby nem Patch do maior
Já não homenageio Macário
Bertram, Gennaro, Solfieri de Azevedo
Nem Goku, o nipônico de Toriyama
Nem o forasteiro de Manuel de Macedo
Nem Ofir nem Apollo de marfim e prata
Nem o Poeta de Emiliano
Nem mesmo Dirceu de António Gonzaga
Os cativos do sertão pernambucano
Nem Sauron, o senhor do escuro de Tolkien
Nenhum continua nos meus planos
Nem Ebenezer Scrooge, de Charles Dickens
Nem o Xangô do Maximiliano
Só você, hoje eu escrevo só você
Só você, que eu quero, porque quero
Por querer
1.2.18
A dor do quase
- Eu não teria vindo até aqui à toa, então me escuta - supliquei com o buquê quase se soltando das minhas mãos já apáticas.
- Eu ainda estou aqui. - Não, ele não estava. Estar presente é muito mais sutil, e ele apoiado no portal com a mão na maçaneta dava o acabamento de suas decisões. - Você sabe que eu não precisava ter visto isso, não sabe? - Apontou para as flores na minha mão.
- Não tive tempo de... eu.
- Por que não jogou fora?
- Não se joga fora um buquê de presente no dia 12/6.
- Não foi por isso que você não jogou fora.
- São só flores.
- Não mete essa pra mim! Você adora meter uma sobre os simbólicos - debochou ele - e vem falar que são só flores.
- São importantes pra mim, assumo. Muda alguma coisa?
- Eu não vou nem quero passar por cima desse "importante" pra você, entende?
- Eu sei que não quer.
- Não quero, mas não do jeito que você pensa.
- Você sabe como eu penso?
- São muitas coisas envolvidas.
- A gente nem começou pra saber.
- É exatamente isso. A gente nem começou e já tá tudo uma merda.
- Claro que tá uma merda. Você não dá chance.
- Dentro do nosso contexto eu não quero mesmo dar chance.
- Qual é nosso contexto?
- Eu ainda estou aqui. - Não, ele não estava. Estar presente é muito mais sutil, e ele apoiado no portal com a mão na maçaneta dava o acabamento de suas decisões. - Você sabe que eu não precisava ter visto isso, não sabe? - Apontou para as flores na minha mão.
- Não tive tempo de... eu.
- Por que não jogou fora?
- Não se joga fora um buquê de presente no dia 12/6.
- Não foi por isso que você não jogou fora.
- São só flores.
- Não mete essa pra mim! Você adora meter uma sobre os simbólicos - debochou ele - e vem falar que são só flores.
- São importantes pra mim, assumo. Muda alguma coisa?
- Eu não vou nem quero passar por cima desse "importante" pra você, entende?
- Eu sei que não quer.
- Não quero, mas não do jeito que você pensa.
- Você sabe como eu penso?
- São muitas coisas envolvidas.
- A gente nem começou pra saber.
- É exatamente isso. A gente nem começou e já tá tudo uma merda.
- Claro que tá uma merda. Você não dá chance.
- Dentro do nosso contexto eu não quero mesmo dar chance.
- Qual é nosso contexto?
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