21.2.18

Ela era puta

Ela era puta. Na acepção real do termo, redução de prostituta, aquela profissão mais antiga do mundo. Era famosa por ter infartado dois só com um lap dance na boate em que fazia strip.

Entre máscaras, nomes falsos e renda enfiada no cu, era ela a que povoava as indômitas punhetas pela cidade. Era ela a dos delírios de "e se" das mulheres e de "eu pago, eu tenho" dos homens. Era ela jogando tequila pelo corpo nas boates do subúrbio e prosecco naquelas mais abastadas. Era ela a rainha das ereções e dores no saco, era ela atiçando, era ela a que detinha esse tipo de poder [falso] que as pessoas gostam de achar que o sexo tem. Esse medo pueril de que elas podem ser dominadas pelo sexo, controladas, atadas, por esse tipo de buceta mágica.

Valeska que me perdoe, mas sua pussy não é o poder.

Ela era puta. Ela era famosa por ter infartado até um fotógrafo que, desavisado, só fazia fotos do salão do bar quando se deparou com ela. Nem um show era, não precisava. Estava de óculos e bebia Nescau enquanto lia suas xerox da graduação. Mas ela emanava aquele lado B do sexo cósmico até cagando.

Two girls and one cup que me perdoem, mas até pra escatologia é preciso ter certa dose de classe.

Ela era puta. Mas seu coração era triste. Nas madrugadas, olhando da janela o vazio da cidade, riscava decassílabos em um caderno que ela havia customizado. Fotos e desenhos que fazia de amores passados, mas que tanto ainda a atormentavam. Versos necessários, premeditados, engasgados. Guardados. Ninguém entendia.

Saber usar o mais-que-perfeito não deixa ninguém de pau duro. E ela era puta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário