20.2.18

Matheus

Quando você me disse seu nome, não achei que combinava tanto contigo. Era muito comum. Acham-se Matheus em qualquer esquina. E ali, desde a forma como nos apresentamos, comum foi tudo o que não fomos.

Não falo por causa da sua camisa, seu cabelo ou suas piadas metidas a únicas. Tudo isso ainda é mais do mesmo. A diferença hoje em dia, nos nossos tempos de memes e redes sociais, é banal. Todo mundo é diferentão.

Você não foi comum porque você me tirou daquele estado de naturalização que faz com que a gente olhe tudo com o olhar do tédio do cotidiano, que nada se destaca. Você me sacudiu, você estremeceu quem eu era. Você me fez reparar em você.

E tudo o que era tão comum em você, como seu nome, são esquinas que só serviram pra me estapear com a realidade da vida: comuns somos todos, o que faz a diferença é a forma como nos relacionamos, como acontecemos na vida uns dos outros, como nos olhamos, as brechas ou portas escancaradas que (não) deixamos, como nos fazemos ficar, como ficamos por acidente.

Esse desnível é foda.

Porque a diferença já te deixa alerta logo de cara. Mas o comum não. O comum vem sorrateiro e sem alarde, comendo pelas beiradas, só te deixa perceber o abismo quando você já está em queda livre sem ter onde se agarrar. O comum é perigoso.

O comum além de perigoso é cruel, porque ele está em toda esquina. Matheus é o nome do meu chefe, do meu colega de sala, do contatinho do Tinder, do padeiro aqui da esquina. Matheus também é o nome que alguém grita bem aqui do meu lado quando vê um amigo de longa data na rua. E é claro que me vem você. Em todos eles, que não são você.

Porque também você, pra mim, nunca foi. Quando você esteve? Nesse nós que nunca existiu, quem perdeu fomos nós dois e disso somos conscientes. Nessas brechas do que poderia ter sido, só fica mais um dia comum, de inúmeros Matheus e Carolinas, de Enzos e Valentinas. Que nunca fomos nem seremos nós.

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