Não escrevo mais Raskólnikov nem Ivánovitch
Nem Míchkin nem Goliadkin do Fiódor
Nem o Diabo nem o Fidalgo do portuga Gil
Nem Gatsby nem Patch do maior
Já não homenageio Macário
Bertram, Gennaro, Solfieri de Azevedo
Nem Goku, o nipônico de Toriyama
Nem o forasteiro de Manuel de Macedo
Nem Ofir nem Apollo de marfim e prata
Nem o Poeta de Emiliano
Nem mesmo Dirceu de António Gonzaga
Os cativos do sertão pernambucano
Nem Sauron, o senhor do escuro de Tolkien
Nenhum continua nos meus planos
Nem Ebenezer Scrooge, de Charles Dickens
Nem o Xangô do Maximiliano
Só você, hoje eu escrevo só você
Só você, que eu quero, porque quero
Por querer
Não escrevo, de Rodrigues, Anjo Negro
De João Ubaldo, nem o conselheiro
De Aluísio, nem o baiano nem João
Nem o Miranda, também, nem Jerônimo, o pedreiro
De Queiroz, nem Gonçalo nem Adão
Nem o herói sem nenhum caráter
Divino homem que ri
Nem Ivanhoé de Walter
De José Rezende, nem Tonico
De José de Alencar, nem o Martim
De Salinger, nem o estudante Holden
Nem Fup, nem Daniel, de Jim
Nem Jake, Miúdo, nem Gastin
Dos deuses gregos de Riordan
Até dos seis Wesley de Rowling
E do Drogo, do Martin, eu abdico
Só você, escrevo e metrifico só você
Só você, que nem você ninguém mais pode haver
Nem aquele com gostos peculiares
E nem, de James, Carrick Grey
E nem Gabriel nem Elizabeth, de Palhares
Nem Ladrão, Lalau, de Walt Disney
Nem Riobaldo, de Guimarães Rosa
Nem, de Lobato, o Visconde de Sabugosa
Nem o Bentinho de Assis
Nem Ed Mort de Luis
E nem o amor total de Vinícius
E nem o conquistador de Abreu
E nem o metódico de Amado
E nem o belo belo de Manuel
E nem o bad boy de Fitzpatrick
E nem os mal-amados de João
E nem o menino que sobreviveu
E nem Rocky & Hudson do Adão
Só você, hoje elejo e elogio só você
Só você, que nem você não há nem quem nem quê
De Rimbaud com Verlaine
De Gonçalves Dias e Castro Alves
Não escrevo nem Javert nem Jean Valjean
Nenhum tem meus "vivas" e meus "salves"!
E nem o Ateneu, do realista Pompeia
E nem Jasão, de Eurípedes, de Medeia
E nem os ladrões do naturalista Gerhart
E nem os meninos da rua do Molnár!
Moreno de Gaarder, moreno de Allan Poe
Moreno de Exupéry, o aviador
Mouro de Bourdoukan, Mouro de Herculano
Mouro de Shakespeare, o vingador
Rei Lear e, de Sófocles, Édipo-Rei
Nem outro Rei, o Rei Leão
Nenhum deles hoje escreverei
Só outro reina no meu coração
Só você, rei aqui é só você
Só você, o muso dentre os musos de A a Z
Se um dia me surgisse um cara desses
Que com seus dotes e seus dons
Inspiram parte dos escritores
Na arte das palavras e dos sons
Tal como Anton, de Cormac McCarthy
Ou como Antônio, de Pedro Gabriel
Ou Tom, o talentoso de Highsmith
Ou o amônio do vencido dos Anjos
Ou como de Carré, o jardineiro fiel
E o muso inspirador coelho da Alice
Se me surgisse um cara desses
Confesso que eu talvez não resistisse
Mas veja bem, meu bem, meu querido
Isso seria só por uma vez
Uma vez só em toda a minha vida
Ou talvez duas, mas não mais que três!
Só você, mais que tudo, é só você
Só você, as coisas mais queridas você é
Você pra mim é o sol da minha noite
É como o caramuru de Rita Durão
É como acabar cem anos de solidão
As religiões do Rio de João
Você é como guilhotinas, pelouros e castelos
Em crepúsculos amarelos de Sá Carneiro
Você é como todos os sonhos do mundo
De Fernando Pessoa, ó, meu parceiro
Você é pra mim o meu amor
Crescendo como mato em campos vastos
Mais que a pedra no caminho pra Carlos
Mais que o supremo pra Roa Bastos
Mais que a confissão de Claude pra Zola
Que o Rubempré pra Balzac, Honoré
Que Baskerville pra Umberto Eco
E os discípulos de epícuro pra Baudelaire!
Só você, mais que tudo e todos, é só você
Só você, que é todos eles juntos num só ser!
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Texto escrito para o Desafio do Poligrafias - um texto por dia durante trinta dias com temas específicos e determinados. Meus trinta textos do desafio estão na categoria PoliDesafio.
Dia 5. Inspire-se em uma música nacional.
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