Tem uma frase que rola aí pela internet cuja autoria já se perdeu, que diz algo como “se um escritor se apaixonar por você, você nunca morrerá”. Bom, adivinha? Você acabou de quebrar essa regra, porque você acabou de morrer. Um escritor foi ridícula e completamente apaixonado por você durante quase três anos, mas você acabou de morrer. Você não fez nada de errado, muito pelo contrário. Se você fosse uma amiga minha na mesma situação eu a aconselharia a fazer exatamente o que você fez e faz até o momento: cortar todo e qualquer tipo de contato.
Mas a gente sempre aconselha nossos amigos imaginando que, do outro lado, tem um psicopata que mata bebês foca com tacos de baseball com pregos molhados em álcool. Mas nem sempre é assim, nem sempre um dos lados é malvado e o outro bonzinho. Geralmente os dois lados são bonzinhos e os dois são malvados. Mas por isso você teve que morrer.
Porque do seu lado, tudo ok, ignora, passou, superou, vida que segue. Do meu, dois anos congelados no tempo e no espaço, que se passaram mais rápido que coelho com ejaculação precoce. Fui dormir no dia que você saiu da minha casa chorando e acordei hoje. Nada aconteceu. Nada se passou. Fui ao apartamento semana passada e te vi por lá o dia inteiro. Até tentei tirar um cochilo pra ver se acordava dois anos atrás, mas parece que esse tipo de coisa não existe. Eu acordei e você continuava aí, eu aqui.
Porque do seu lado, tudo ok, ignora, passou, superou, vida que segue. Do meu, dois anos congelados no tempo e no espaço, que se passaram mais rápido que coelho com ejaculação precoce. Fui dormir no dia que você saiu da minha casa chorando e acordei hoje. Nada aconteceu. Nada se passou. Fui ao apartamento semana passada e te vi por lá o dia inteiro. Até tentei tirar um cochilo pra ver se acordava dois anos atrás, mas parece que esse tipo de coisa não existe. Eu acordei e você continuava aí, eu aqui.
E sabe, eu não sei dizer o quanto ainda é amor e o quanto é um enorme incômodo pelas pontas soltas. Pelos mea culpa que eu nunca fiz, pelos pingos nos is que não botamos. Ou até um certo incômodo ególatra de você estar feliz sem mim, enquanto eu estou aqui. E tem sempre a possibilidade de o meu lado menininha romântica ter se apegado às juras de “você é o amor da minha vida” ou ao “um dia a gente ainda vai se reencontrar” que você disse quando terminamos.
Mas o que importa é, você morreu. Desculpa, mas era você ou eu. E eu tenho medo demais de morrer. De ter um infarto. Uma crise de pânico ou ansiedade ou depressão que me deixe mais maluco do que eu já sou. Ou uma briga, ou mais uma das milhares de decisões idiotas que eu tomo ao longo dos meus dias.
Mas o que importa é, você morreu. Desculpa, mas era você ou eu. E eu tenho medo demais de morrer. De ter um infarto. Uma crise de pânico ou ansiedade ou depressão que me deixe mais maluco do que eu já sou. Ou uma briga, ou mais uma das milhares de decisões idiotas que eu tomo ao longo dos meus dias.
Eu não posso mais, eu não consigo mais, eu não tenho mais sanidade pra isso. É muito bonito nos filmes e nos livros um sujeito ser apaixonado pela mesma pessoa anos a fio, sozinho, esperando. Na vida real isso faz da pessoa um sujeito amargurado, sem paciência para nada, que alterna entre querer comer todas as mulheres do mundo e ficar meses sem sequer beijar alguém. Na vida real esse sujeito é um cara que, nos primeiros cinco minutos de conversa com uma pessoa interessante e potencial namorada desandar a falar sobre a ex – você, no caso – e estragar tudo. Sabe quantas vezes eu fiz isso nos últimos dois anos? Todas. Sabe quantas mulheres entraram na minha vida e sabiam dessa história de cor e salteado? Todas. Chega, né?!
Aí é isso.
Aí é isso.
Foi tão difícil quanto foi pro Conan Doyle matar o Sherlock. Ou pro Gilberto Braga e pro Aguinaldo Silva matarem a Odete Roitman. Ou pro Maurício de Souza ter que explicar porque os personagens não têm dedos dos pés. Mas eu tive que fazer, esparadrapo se puxa de uma vez só. Na verdade faz dois anos que eu tento puxar e nada. Mas agora foi. Levou casquinha, pele, dá até pra ver um pedacinho do osso, mas vai passar. Chega, né, já deu. O charme de escritor sofrido não vale o sofrimento real. O sofrimento que eu causo às pessoas por manter você viva não vale a pena.
O “um dia” que a gente ia se encontrar não vem mais, e se vier, paciência.
O “um dia” que a gente ia se encontrar não vem mais, e se vier, paciência.
Eu é que não vou ficar aqui mantendo um cadáver dentro da geladeira. Minha geladeira não tem nem comida, vai ter cadáver? E o assassinato começou há uns dias: apaguei todas as fotos, cartas e textos do computador, só ficaram os que estão na internet. Apaguei TODOS os e-mails e joguei fora uma ou outra coisa sua que estava aqui. E agora, quando eu der enter no ponto final, esse vai ter sido o último texto pra você. Acontece. Então é isso. Requiestat in pace. E por via das dúvidas, vou botar uma câmera vinte e quatro horas por dia no túmulo, pra garantir que você não vai dar uma de Jesus e voltar dos mortos. E eu nem acredito em espírito mesmo.
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Escrito por Léo Luz.
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