5.5.18

Nada apaga você

Podem passar tempo, estações e outros homens.

O tempo, mesmo aquele que gastei gostoso com risadas e algum entorpecente de final de tarde. As estações mais leves de vento batendo no rosto e pôr do sol em viagens a pé de cara e coragem. Ou até aqueles homens que deixam o gosto da permanência, aqueles óbvios que me fazem escrever sonetos, aqueles raros que me fazem desenhar e compor.

Nada apaga você.

Tem dias que é foda. E a culpa não é da nossa troca de e-mails com seu elogio improvável aos meus textos ou seu áudio leviano sem motivo. Tem dias que você simplesmente está aqui.


É o seu cheiro no aparelho da academia, é seu shampoo que alguém usa e senti em uma rajada de vento no corredor do mercado. É uma careta sua que alguém faz do meu lado. Mas você nem mora na mesma cidade que eu pra ter frequentado a mesma academia, e no mercado não venta. E ninguém conseguiria reproduzir seu desvio de septo.

Nesses dias, que o gosto da sua boca aparece aqui sem dó nem piedade, eu apenas afasto o pensamento. Como quem fecha uma porta. Mas é daquelas com defeito, sabe? Que qualquer ventinho escancara, que ninguém conhece o jeito certo de fazer a maçaneta funcionar.

E qualquer brisa, quando é você, é vendaval.

Se tantas outras coisas me doem tanto e tão fundo, ou se tiram meus pés do chão em anestesia de felicidade, por que nada consegue apagar você?

P.S.: Eu realmente queria lamber sua mente. (Não, claro que não é só a mente.) Mas se querer só é poder nos nossos sonhos, deve ser por isso que tenho essa constante insônia maldita.

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