Tem dias que a gente sabe que perdeu.
É muito bom todo esse discurso de não abaixar a cabeça, de seguir a luta e essa coisa toda. E ele tem muita verdade. Mas tem dias que, simplesmente, a gente sabe que perdeu.
Aquela vaga que você queria no trabalho, aquele concurso pelo qual você esperou dois anos, um passo de dança bobo que não saiu certo na aula, aquele áudio que você mandou e nunca vai ficar azul.
Não importa o que foi. Às vezes não foi nada disso. Às vezes foi tudo isso junto.
Às vezes nada precisou acontecer, você só percebeu. Constatou. Respirou fundo se olhando no espelho e prendeu a vontade de chorar. Ou deixou rolar quando tocou aleatoriamente alguma música do Aerosmith. E você pensou nele. Ou nela. Mas não foi o pensamento que doeu. O pensamento foi só o estalo mesmo, aquele soquinho final no peito, só mesmo pra te avisar que você perdeu. É isso. Você perdeu. Você sabe disso.
A vida é feita disso. Dos golpes de magia e das constatações das nossas perdas em banheiros de boates de quinta. Você sai feliz com sua melhor amiga e vê ele beijando outra. Quando você achava que já tinha superado, é claro. Você chega feliz no trabalho, realizado por estar ali, e é demitido. Você chega na sua aula preferida e o professor, também assolado pelas próprias perdas, te dá um esculacho que te deixa triste.
É uma corrente, que, inconsciente e involuntariamente, acabamos transmitindo. Sem muita empatia ou noção de que os outros também lidam com as próprias perdas o tempo todo. Meio sem tato com as existências tão profundas e particulares do outro, a que nunca temos acesso, e que fingimos que não existem, vendo suas superfícies, vendo suas posições e funções em nossas vidas.
Talvez essa seja a maior de todas as perdas.
Tem dias que a gente sabe que perdeu, é verdade. Mas ainda devíamos conseguir ter consciência de que todos os outros são existências separadas que também lidam com as próprias e cruéis perdas. E que, ao mesmo tempo, todos são existências conectadas. Que, juntas, ainda podem minimizar um pouco das nossas dores.
Vai lá tomar aquele chope agora com seu amigo. Não inventa essas desculpas pra você mesmo, não. Afoga essas perdas. Enquanto a gente respira tudo continua sendo mar de oportunidade. Salut!
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