Dia dos namorados e toda a falsa guerra entre casais melosos e solteiros convictos é só superfície do que todos carregam ou já carregaram consigo. Os não amores. Amores não amados, amados pela metade, excessivamente amados, amados do modo errado.
Aqueles amores que não eram pra ter acontecido, de festas, shows e outros estados. Amores meio enviesados, no trabalho, na família, desafiando a monogamia. Amores excessivos, de mesas de cartomantes, ciúmes doentios de vestidos colados e ligações insanas de madrugada. Amores confusos e urgentes de escrita compulsiva, tesão conturbado e mudança de endereço.
Dia dos namorados é dia do amor, mas não de qualquer amor. Amor encaixado, amor concretizado, amor de projetadas linhas retas. Amor com firma reconhecida, amor de misturar roupas no cesto, amor de queimar a comida juntos e todas essas pequenas magias que viram magias só por causa do amor. Amor embalado a vácuo.
Felicidades pra vocês que hoje comemoram esses amores simetricamente compartilhados, amores por antonomásia, amores que poderiam ilustrar enciclopédias.
Mas que vivam os não amores, que respiram tortos nas brechas de toda ordem da reciprocidade exata, das circunstâncias ideais, do local certo na hora certa. Vivam os não amores insistentes, inconvenientes e chatos porque não são nossos. E aqueles cheios de poréns e músicas em tom menor, tão justificáveis, só porque foi no nosso peito que se tornaram cidadãos.
São os não amores que vão nos acompanhar a maior parte do tempo. Na chuva de verão ou nos feriados vazios, entre saltos, cinzeiros e fotos que nos “esquecemos” de apagar, são os não amores que nos carregam nos ombros, sempre eles.
Amores que deram certo não têm nenhuma graça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário