4.9.18

Tudo aquilo que nunca fomos

Hoje, que estou um pouco mais fria de nós, acho que consigo explicar o que nunca consegui: aquilo que eu queria que nós dois tivéssemos sido.

Eu estaria mentindo se dissesse que não quero mais, que a centelha de esperança já não queima. Eu me fiz esfriar de você, é verdade, mas você ainda não se foi. Você não irá completamente agora, nem amanhã ou no próximo mês.

Eu só queria que nós dois tivéssemos sido reais. É pedinte demais falar assim, não é? Essas coisas acontecem ou não, não se podem exigir. Por isso digo isso não como quem pede – ou precisa –, mas como quem passou meses analisando sentimentos – esses inanalisáveis – e hoje acha que tem uma resposta bem estruturada e pretensamente lógica.

Eu queria que nós tivéssemos construído alguma coisa. Suficiente pra você me procurar de madrugada sem motivo, sem entrelinhas, só porque precisa. Suficiente pra eu te dizer que preciso encostar a cabeça no seu peito, e só isso mesmo, sem nenhuma intenção ou tática mirabolante de conquista por trás.

Eu queria que você soubesse que se te falei tal coisa, foi porque você é a pessoa no mundo que me deixa confortável pra isso, e não porque estou jogando ou não tive opção. Eu queria saber que não faz diferença você sumir ou aparecer, nada disso faria nós dois – o que quer que isso significasse – desvanecer.


Sabe, eu nunca quis impor um título a nós dois. Eu não sei se um dia estarei preparada pra isso. Mas eu queria que no nosso olhar, no nosso toque, nas nossas risadas houvesse solidez, sim. Que houvesse troca, que houvesse conforto, que houvesse casa. Que houvesse nós.

Sabe o que eu queria, sabe o que eu queria mesmo? Eu queria que a gente soubesse. Só nós dois, e mais ninguém no mundo. Mas até hoje nem eu nem você sabemos, e isso mata.

Sabe o que me deixa me sentindo ainda mais impotente? Que mesmo hoje, eu me julgando afastada e de certa forma fria pra situação, refletida e de sentença julgada, falo e continuo não falando nada. Te busco e continuo não buscando. Te encontro e continuo não encontrando. Sinto e continuo não sentindo. E mesmo esse nada, tão ausente e, como água, incolor, inodoro, insípido, permanece.

Até quando continuaremos… não sendo?

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