Disse Greimas que fora do texto não há salvação. Ou algo do tipo considerado o telefone sem fio do cacete que essas citações – traduzidas, ainda! – que ficam famosas são.
Isso tudo são clichês, aqueles inevitáveis com que nos deparamos todos os dias, como nossos óculos óbvios, cafés necessários e debates que, sem falsa modéstia, entramos pra ganhar.
Hoje eu fui naquela livraria, e me peguei pensando em coisas chatas sobre hifens mal colocados e caixas-altas tão desnecessárias. E sobre se mal colocado não deveria ser escrito junto e sobre o quanto esse plural de caixa-alta é nojento.
E ri sozinha lembrando de nós dois discutindo inflamados coisas desse tipo entre cervejas em pleno Carnaval carioca. Entre nossos contrastantes gestos tão espalhafatosos e todas as entrelinhas de personalidades trancafiadas.
Eu sinto falta, sabia? Eventualmente, é claro.
E eu senti falta hoje.
Senti falta das nossas conversas sobre dosagem alcoólica e erros de tradução. Das nossas conversas sobre bandas que eu não conheço e nenhum de nós dois suportar mais ler a palavra empreendedorismo. Das nossas conversas sobre aleatoriedades sempre permeadas por texto, porque o puto do Greimas estava completamente certo.
Talvez seja leviano eu concordar com ele, só porque pra mim é bem mais fácil do que falar escrever, mas ainda arrisco que concordo porque texto é esse alfa e ômega em que realidade e fantasia se permitem, se materializam, se fundem até.
Ou só porque é o texto que de algum jeito, na folha de pagamento ou nesse necessário tão constitutivo de tudo o que somos, nos une em necessidade e paixão, nos une em encontro e identidade.
Nos une como nossa forma criativa de organizar a vida, dessas searas que a escrita permite; nos une como nossa forma metódica de gozar a vida, dessas normas a que nos apegamos e dá até certo prazer de encontrar nesses compassos de páginas e páginas profundamente certas.
É claro que não há salvação fora do texto, nem a gente quer que haja, nem fora nem dentro, ou alternando, como a sintaxe de colocação em situações ambíguas.
Ou simplesmente como uma metáfora sexual que, puta merda!, só mesmo nós dois pra acharmos algo sexual em pronomes.
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