6.1.19

Avenida Paulista (ou acasos, o que é exatamente a mesma coisa)

Eu mal tinha passado o cartão de débito quando a atendente chamou meu nome e me entregou o frapuccino de caramelo. Uma ruiva com uns 2m de peito veio me falar que a bebida era dela.

Valentina, também. Nome pouco comum pra quem tá na casa dos 30, como nós.

Eu ri do equívoco. A mesma bebida preferida, o mesmo nome. Bem menos peito em mim, bem menos bunda nela. E um cara ao fundo rindo da cena me chamou mais atenção do que a coincidência.

Era você.

Nenhum de nós dois morava (nem gostava, aliás) naquela cidade. Eu tava passando o tempo de uma escala de quase um dia inteiro. Você tinha ido a trabalho.

Eu disfarcei quando a mulher perguntou se nos conhecíamos, você fez questão de falar umas besteiras que me deixaram sem saber onde enfiar a cara, embora eu soubesse muito bem que queria enfiar a cara no meio das suas pernas, como sempre.

Teve também o dia naquele inferninho num dos bairros mais sujos daquela cidade, outra, que, de novo, nós detestamos. Dessa vez, quem estava acompanhada era eu.


Você parou do meu lado no bar, eu tinha me abaixado pra pegar qualquer coisa que bêbado sempre deixa cair no chão, e lá estava você. Troquei a bebida, peguei de outra marca. Eu peguei outro tipo de bebida, na verdade, o sal na borda logo me mostrou que aquilo nunca seria minha escolha.

Você piscou de longe, depois que me afastei, e me sorriu nossos códigos, e eu sabia.

Mas, desses acasos, o que essencializa a porra toda e ao mesmo tempo nem devia ser classificado assim foi quando nos cruzamos atravessando a Avenida Paulista, cada um concentrado nos próprios caos e urgências. Foi um oi rápido com uma olhada pra trás que me fez dar um encontrão em um cara que me vociferou qualquer coisa. E seguimos. É isso o que a vida exige, e é isso o que somos. Ação.

Mas horas mais tarde, após o rush da cidade ter se aliviado, eu voltei lá. Eu sabia que não tinha como te encontrar, mas eu precisava respirar aquele pseudomomento que o acaso nos deu.

Você tinha feito exatamente a mesma coisa. No mesmo exato cruzamento. Mas duas horas mais tarde.

É por esse tipo de coisa que eu sempre soube onde te encontraria nos seus momentos de evasão. É por esse tipo de coisa que você sempre conseguiu me encontrar nos meus. A gente sabe muito bem, a gente sempre soube, é inerente.

Esse lugar é muito mais do que a representação de mim ou de você, das nossas sedes, indomesticabilidades e overdoses.

Esse lugar somos nós. Esse filho da puta e inevitável nós.


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13 coisas sobre você

1. Voz
2. Olhos (ou clichês, o que dá no mesmo)
3. Frango caprese
4. Ímpeto
5. Cicatrizes
6. Lábia (e parênteses)
7. Marlboro Vermelho
8. Estradas
9. Covinhas
10. Bunda (e isso merecia ocupar todos os 13 tópicos)
11. Avenida Paulista (ou acasos, o que é exatamente a mesma coisa)
12. Cerveja
13. Suas linhas, é óbvio

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