A Carolina prefere o mistério.
Ela não sabe o que fazer com certezas taxativas, nítidas aparições visíveis a olho nu, sons cristalinos, objetos voadores plenamente identificados, apresentadores de talk shows pré-gravados, nada disso tem utilidade para ela.
Um mundo sem duendes e inscrições ocultas em palimpsestos é o inverso de um universo essencial para a Carolina.
Imagina se ela vai abrir mão de abrir, num dia de sufocante verão carioca, de abrir a porta, qualquer porta (até mesmo uma janela [qualquer que seja {até mesmo uma janela imaginária num país imaginário}])* e se deparar com uma extraordinária fuga de um dia ordinário, rotineiro, um dia filho de um engenheiro civil que sonha com pontes e concreto armado; a Carolina prefere o mistério, isso talvez explique tudo.
Se não, pense nisso: uma torre Eiffel só é uma torre Eiffel quando oculta uma outra torre Eiffel, e essa hipótese não pode ser negociada, porque a Carolina logo ameaça convocar o fantástico numa entrelinha, num ponto e vírgula, numa vontade insaciável de encontrar a esquina perfeita, ideal, de virar essa esquina, e lá, do outro lado, na rua ideal, perfeita e oculta, imaginar a próxima esquina, uma esquina irreal, a única para a Carolina.
* (N. T.) Leia-se: “…especialmente uma janela imaginária num país imaginário.”
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Por Igor Farias
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