26.2.19

Metódicas Mãos

Os últimos dias foram ordinários, no sentido Nelson Rodrigues (ou "cumpade" Washington) mesmo. As roupas no chão lembrando nós dois.

Foi só um desleixo, que tingi com justificativas de vida corrida.

E então ali está, me encarando, quase inquirindo, o mesmo vestido amarelo que você quase rasgou da última vez.

Se eu tivesse aí já tinha arrancado, foi o que me fez cruzar de moto essa maldita serra que nos separa. Às 4h. Banalidades pra quem anda insone. Nem tão banais pra quem não se mexe muito em geral.

E lá estávamos. Bocas cativas, suores sedentos. Cheiros tão inconfessos. Suas mãos cindindo minha pele.

Pode ter certeza, o que mais fode minha mente nesse teu corpo infame são as mãos.


Entradas, pintas nas coxas, pele doce. E esse rosto perfeito, todo esculpido, claro. Mas as mãos, puta merda.

Mãos que já me fizeram perder uma calcinha, que sempre acham, vorazes, o fecho da minha roupa.

Mãos que eu queria agora deixando em mim suas marcas, dedos viajantes na minha boca.

Mãos que muito espalharam minhas roupas no chão do teu quarto, como essa pilha no meu que agora pra você me transporta.

E me traz de volta.

Só um lapso me lembrando de que ímpetos de mensagens libidinosas não precisam nos tornar reféns e podem terminar em copos. Ou na pia. (Ou até feitos de texto, nessas óbvias formas de sublimação.)

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