4.3.19

Sinal vermelho

Eu só queria te passar a vara quando te conheci.

Desse jeito bem chulo mesmo, como todas essas nossas necessidades humanas improrrogáveis.

Não foi mentira ter dito o quanto você é apaixonante. Mas eu, escaldado que sou, dificilmente cairia nessas redes.

E então me aparece você, suada e descabelada pós-rush carioca, maquiagem gasta de dia inteiro, tão calejada e cheia de maldade, e, no entanto, era só uma menininha de bochechas coradas quando vê o primeiro amor. Fodeu, eu fiquei nas suas mãos.

Nem o experimento de Stanford materializou de forma tão quase palpável qualquer livro de psicologia quanto você usando todas as formas pra me afastar. Você, em baixo-relevo, latinismo e entrada de dicionário, o protótipo perfeito.

Eu lia muito bem.


Eu lia todas as suas vírgulas. Eu me converti na sua religião, eu conhecia todas as suas roupas, falei. E, puta merda, como isso é legítimo.

Mas eu precisava de um motivo que me fizesse voltar aos eixos da banalidade do cotidiano, essa coisa de bater ponto, pagar fatura do cartão de crédito e selagem a vácuo.

Eu precisava abandonar aquela nossa bolha de borboletas no estômago e dopamina - troque as letras e inverta as vogais. Percebe?

Qual de nós dois, afinal, foi a fuga mais óbvia? Qual de nós dois foi a maior covardia?

O sinal abre. Você acabou de atravessar a rua. Olhinhos brilhantes de mãos dadas com uma outra existência qualquer. Saia esvoaçante e metáforas que, sim, sem pretensão ou falsa modéstia, só eu saberia ler.

Solto a embreagem. E sigo.

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