Eu só queria te passar a vara quando te conheci.
Desse jeito bem chulo mesmo, como todas essas nossas necessidades humanas improrrogáveis.
Não foi mentira ter dito o quanto você é apaixonante. Mas eu, escaldado que sou, dificilmente cairia nessas redes.
E então me aparece você, suada e descabelada pós-rush carioca, maquiagem gasta de dia inteiro, tão calejada e cheia de maldade, e, no entanto, era só uma menininha de bochechas coradas quando vê o primeiro amor. Fodeu, eu fiquei nas suas mãos.
Nem o experimento de Stanford materializou de forma tão quase palpável qualquer livro de psicologia quanto você usando todas as formas pra me afastar. Você, em baixo-relevo, latinismo e entrada de dicionário, o protótipo perfeito.
Eu lia muito bem.
Eu lia todas as suas vírgulas. Eu me converti na sua religião, eu conhecia todas as suas roupas, falei. E, puta merda, como isso é legítimo.
Mas eu precisava de um motivo que me fizesse voltar aos eixos da banalidade do cotidiano, essa coisa de bater ponto, pagar fatura do cartão de crédito e selagem a vácuo.
Eu precisava abandonar aquela nossa bolha de borboletas no estômago e dopamina - troque as letras e inverta as vogais. Percebe?
Qual de nós dois, afinal, foi a fuga mais óbvia? Qual de nós dois foi a maior covardia?
O sinal abre. Você acabou de atravessar a rua. Olhinhos brilhantes de mãos dadas com uma outra existência qualquer. Saia esvoaçante e metáforas que, sim, sem pretensão ou falsa modéstia, só eu saberia ler.
Solto a embreagem. E sigo.
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