18.10.20

Raphaela

Ah, Raphaela, sua filha da puta.

Só esta alcunha me resta no reboliço de cabelos aparados, gestos comedidos e coxas de quem se sabe.

E os olhos de esquina que nunca saíram de mim. 

De esquinas, reticentes mesmo, daqueles que podem seguir pra qualquer um dos lados ou pra lado nenhum, e que tudo o que deixam são pontos cegos do seu sumiço no horizonte.

Você se diz óbvia, se diz constante, se diz derradeira, você é solidez de terra, afinal. Mas eu sou o sussurro dos ventos, que te segmenta e te esparrama. 

Exacerbando em você o que me tangencia, eu te bagunço, eu te reviro, eu te transmuto.

É este o apelo do meu fascínio sobre você, sei bem, Raphaela.

Toda a pose vestida de quem descobriu o equilíbrio do universo se desfaz no meu olhar com a única certeza de que certeza você não tem de porra nenhuma. Você não sabe de porra nenhuma. Eu não sei de porra nenhuma. Ninguém sabe de porra nenhuma.

Mas se você e seus deuses me permitem um palpite, me atrevo: se te alcançassem minhas mãos e meus laços, não haveria cisão que me faria te soltar.

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