É claro que eu também tenho sentimentos por você. Respondo em voz alta, sozinho no meu quarto, já pela milésima quanta vez escutando tua voz naquela mensagem.
Olho a parede, o armário, a rua pela janela do andar baixo, ouço de algum lugar a música que toca falando comigo: Mas correr atrás já é demais. Evito o meu reflexo no vidro.
Nunca foi falta de sentimento, pelo contrário, foi excesso. Sabe quando você molha os pés no mar e sente que a correnteza vai te puxar se você não sair logo?
Eu também fiquei paralisado de ver tudo acontecendo tão fácil e tão rápido entre a gente. Sim, eu também senti pavor, como você mesma comentou sobre você.
Entenda, minha querida, todo mundo tem as suas dores, mas eu não posso me dar ao luxo de dar um passo em falso.
Porque eu não teria onde me agarrar se a queda fosse ainda maior do que já tem sido; se esse chão, instável, sumisse por completo e eu tivesse que encarar o abismo sem nenhuma corda de reserva.
Não é que eu não queira, que eu lhe tenha virado as costas, ido embora, desistido, como você escolheu pensar. Seria bem mais fácil se eu realmente tivesse feito isso; mas eu não fiz, nem conseguiria fazer agora.