23.11.20

Bagunça minha vida, revira minha cama

Quarta-feira, na fila do mercado, passa alguém atrás de mim com o cheiro dos seus cabelos, e chego a sentir eles enroscados entre os meus dedos e você reclamando que eu te deixo toda desarrumada.

E me vem seu jeito de entrar na minha e de falar "passa vontade não" em resposta às minhas cantadas infames. E o quanto eu gosto de tudo isso em você.

O jeito de menear a cabeça revelando a linha tênue entre desprendimento e timidez quando te chamo de mijona e quando cheiro seu suvaco do nada. E você séria querendo me convencer do alto nível de rusticidade da sua academia.

Você evasiva fingindo que não tá levando nada a sério, mas sem parar de analisar cada detalhe. Fazendo piada em parte porque é sua defesa natural, em parte porque é um teste comigo, mas ainda assim, comigo, estando entregue.

O jeito de evitar responder aos meus rompantes de declaração, me tangenciando, mesmo tendo me pedido em namoro no segundo dia, e o fato de ter me dito que a paixão é um segredo só ser ainda mais descarado do que um sim.

Os movimentos da sua língua, o gosto da sua boca, a textura da sua pele, a pressão das suas mãos, toda cheia de mãos, em mim. E o quanto sua presença continua na minha cama pelos dias seguintes depois que você vai embora.

Por acaso, eu arrumei a cama hoje, só pra você bagunçar de novo mais tarde, do mesmo jeito que tem feito com os meus pensamentos.

Chega a minha vez, e algum cliente irritadinho por eu estar no mundo da lua pensando em você me avisa que preciso passar minhas compras.

O princípio de treta desnecessária, que teria me deixado puto em outra situação, me faz rir, o que até amolece o sujeito também. É que ter me bagunçado, do jeito que você fez, passou a colocar poesia em todas as pequenas coisas da minha rotina.

A sorte é do nosso quarto, que assistiu à gente se amando intensamente.

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