Noite adentro de conversas ambíguas. Nada ébrio, me falta a escusa típica. É só um flerte, um passatempo nada condenável, ou nem isso, nada disso, me digo. Quem, assistindo a esses assuntos tão inocentes, diria o contrário?
Raspando a superfície da superficialidade. Ali, ainda, mas naquela pele fina da quase revelação. Não, claro que não me entreguei demais. Ainda consigo me safar com um "não era bem isso, veja bem".
Te visualizo com os olhos inquiridores e o sorriso sacana de canto de boca.
Eu, deitado no sofá, TV ligada em um arremedo de gourmetização dos clássicos programas de auditório. A trilha sonora nacional dos dias de ócio.
Você. Só de calcinha, de renda, claro, algo entre vermelho, vinho ou roxo, deitada de bruços, perto da janela, porque precisa da poesia da vista da cidade e da vida e dessas coisas todas, e porque tem um quê de exibicionismo pra algum vizinho desavisado que já perdeu o tino fácil contigo.