4.2.21

A Chama da Paixão... e do Caixão

Quando vi aquele homão, forte, cabelos ao vento à la "Anunciação", pele moreno-jambo, olhar de comedor da Baixada Fluminense, logo senti que tinha que ter algo de errado.

Estava sem camisa capinando um lote, suado nas temperaturas amenas do janeiro carioca, calça branca de terreiro toda colada, marcando uma jeba de proporções descomunais.

Cara, havia algo de muito, muito errado.

Essas sortes não aparecem na minha vida, eu, acostumada que soy com piroquinha -10 que só resvala pela entrada, deixando intocada a caverninha.

Meu colo do útero, clamante, logo se contraiu. "É hoje que vou ser apresentado diretamente a uma estocada de rola", eu podia ouvi-lo. Mas algo me dizia que aquele homem robusto e madeirador estava envolto em um grande e sombrio mistério.

Depois de perceber que meu dedo indicador da mão direita afinou consideravelmente, pensando naquele espécime forjado no mais puro néctar da testosterona, vi que precisava agir. Logo fui a uma cigana saber do meu destino.

Na hora que a mulher virou o jogo, revirou os olhos num transe mais profundo do que minha buceta sabia que seria explorada, e caiu pra trás. Dos seus lábios, ouviam-se sussurradas estas palavras: "Sai, sua vagabunda, esse homem é meu, eu quero, que delícia, caralho".

Olhei aquela cena patética indignada. A cigana queria me passar a perna? Até ela? Só porque meço metro e quarenta e tenho essa carinha de trouxa?! Ah, tudo tem limite. Saí de lá sem pagar e olhando para trás, porque sou destemidah.

Mal sabia eu o que me aguardava. A cigana, sedenta pelo alfa da matilha, e puta que não paguei e ela não conseguiu comer o BK que planejava, me lançou uma maldição: a chama da paixão seria acesa nas minhas entranhas, mas meu estacionamento nunca veria a tal tuneladora.

Já fui logo mandando um áudio no zap fazendo minha voz mais sensual de atendente de telessexo (aprendi assistindo aos comerciais da Top Therm), chamando ele pra me encontrar exatamente a zero hora na praia do Recreio, para ele se encantar com a minha simpatia.

Como boa brasileira tradicional católica apostólica romana praticante, manjo bem das macumbas de amarração.

Eis que ele me chega trajando apenas uma rosa, entre os dentes. Em algum lugar distante tocava Nelson Ned (senti uma certa alfinetada pela minha altura...): "Não dá mais pra conter a chama, me mata de prazer".

Arrepiei inteirinha, caralho! Não tinha uma parte do meu corpo que não tava eriçada!!! Que homem gostoso! Que aura de comedor! Escalavrador de buceta! Que rola que ainda não totalmente ereta já se insinuava serpenteando entre joelho e umbigo! A rola parecia ter vida própria, como se desenhasse no ar ao som de Beto Barbosa!

Eu não tava molhada. Eu ESCORRIA! Sentia nas pernas a sensação quente e molhada e os arrepios!

Foi quando olhei pra baixo e percebi que aquilo não era somente o efeito daquele homem, mas do cachorro-quente com churros da Cinelândia que eu tinha comido antes de ir. Puta que pariu, cigana filha da puta! Certeza que tinha dedo daquela escrota! Sempre comi Yakissoba na Lapa e nunca senti nada, eu hein! Disfarcei dizendo que queria nadar nua pra me conectar com a minha Afrodite interior, enquanto ele se sentou calmamente na areia, a jeba quase alcançando a arrebentação.

Fui me aliviando ali no mar mesmo, mentalizando as boas energias que viriam depois de levar aquela rolada que certeza que fazia fácil anal e oral ao mesmo tempo de tão grande.

Eis que de repente, não mais que de repente, vejo se aproximar dele uma mulher, uma vadia qualquer que estava nas redondezas arriando um despacho, numa parte de mais mato, perto do calçadão.

A piranha deu em cima dele, tirando a roupa e agarrando na maior cara! Oferecida! Parece até eu, porra!

Não posso negar que quando engoli o ego, foi uma cena bonita de ver, comecei a tocar uma ali mesmo pra entrar no clima.

Ela sentava e urrava: "Caralho, que pauzão gostoso, que caralho veiudo da porra, que rola grossa, tá me rasgando toda, pressão tá abaixando, tá até dando falta de ar, que foda é essa, parece que tô indo pra outro mundo, caralho, caralho, parece que tão sugando minha alma por essa rola, tô em outro mundo, tô em outro mundo! Que gozada da porra, tô até com a visão turva, porra, tô vendo uma luz, caralho, que issooooooooo, que cajadãooooo, que tridenteee".

QUÊ?!

Do nada, a mulher para a sentação de Veronica Avluv e faz só a Rita Cadilac dando o cu, ESTÁTICA, quase uma ode a Álvares de Azevedo.

Parei. Que porra foi essa?!

Fiquei observando o garanhão lustroso sacar um pergaminho que não sei de onde saiu já que o mancebo não portava bolso, desenrolou o pergaminho que logo ocupou toda a extensão de ponta a ponta da praia do Recreio, sacou uma pena e fez um risco na lista interminável, escrita em Comic Sans 6.

Saí disfarçadamente do mar e olhei uma parte do pergaminho que estava próxima de mim, antes que ele conseguisse guardar. Eram os nomes de todas as mulheres que ele já matara na vida com o poder da sua picada fatal.

Me benzi pensando em como Claudinho e Buchecha tinham razão: "Há  males na vida que vêm para o bem". A maldição da cigana me salvou, não conheci a chama da paixão, mas pelo menos não fui ceifada, traída por um desejo ardente, mais uma vítima daquele pau encarregado de fazer o ifoda das almas inocentes diretamente para o outro plano.

Reflexiva na janela do BRT comendo salgadinho de costelinha e tomando Guaramor, voltando para casa e lembrando da mulher agonizando naquela rola cosplay de hidrante, percebi como as experiências da vida nos esclarecem seu sentido. Finalmente compreendi o sentido da expressão "passar dessa para uma melhor".

5 comentários:

  1. ..."passar dessa para uma melhor". Entendi também o porquê das portuguesas gozarem falando "estou-me a vir".

    No fundo, bem no fundo, eu queria sentir aquela mistura de Jason com Kid Bengala me deixando assada e falando com sua voz de ator pornô que tava doido por mim enquanto me levava pro outro mundo a golpes de linguiça. Mas hoje foi mais pro Kid Abelha minha fixação é minha assombração.

    ResponderExcluir
  2. ahahhahah hilário! fica a dica José Augusto: 'de que vale ter tudo na vida/ de que vale a beleza da flor..."

    ResponderExcluir
  3. Riscando nomes da lista4 de fevereiro de 2021 às 21:14

    Ceifador de pussys
    Feliz de quem não entrou naquela lista... Ou de quem entrou.

    ResponderExcluir