Eu queimei a primeira vez quando perguntei seu nome, você contra a parede.
E logo depois, entorpecida pelo misto de rebarba de dia anterior e prévia de dia seguinte, quando vi que havia mais em comum do que o entalhe dos lábios.
E só ali, na mesma noite, foram várias. As referências bobas e as profundas (talvez, por isso, mais bobas ainda). Discrepâncias de se recolher e se arremessar em coisas opostas. O meu comentário vulgar sobre o nude "nunca mostrado desse jeito". O seu "tá perigando" (lembra?), que você me disse enquanto se afastava e que até hoje me faz pensar no quanto isso representa, no que tange a mim, você.
Sua crise de ciúme, que você, ainda, tem a cara de pau de negar, esperando o Uber. E eu com duas Valentinas em mim. A que se sentiu maravilhada por aquilo e a que me cutucou forte e disse: "Por que você tá gostando disso?! Você tá maluca?!"
Eu queimei.
Naquele dia em que, saindo do trabalho, vi a notificação e me veio tua voz em "Forever". E senti a efusão se espalhar por todo o corpo, ao mesmo tempo em que me veio a mesma Valentina castradora, pretensa ode à racionalidade: "Para de se sentir assim. Não é nada disso."
Eu queimei nos meus planos ingênuos de virada de ano e Carnaval, e queimei procurando alugar meu apartamento por temporada por um feriado contigo.
Então queimei de frustração por um corte e por todas as referências que me soterravam de você.