Dizem que a arte imita a vida, e a vida imita a arte, e repetimos faceiros essa ideia por aí, certos de que a correlação se esgota nela mesma, nos satisfazendo ao pensar que ela diz respeito ao que tem de real e árido na arte e ao que tem de ficcional e mágico na vida.
Como se, nessa relação solidária, tanto vida quanto arte aparassem suas respectivas arestas e se apresentassem sob uma forma perfeita, com uma superfície tão polida e lisa que tudo o que faz, muda e com um cândido e tranquilizador sorriso estático, é refletir.Mas, como superfície que é, essa impressão não vai além dos muros e das vitrines que, acostumados, olhamos de relance sem reparar as alterações que ali se fizeram. Pior, sem minimamente vislumbrar os universos que muros e vitrines ocultam.
Tal qual o buraco, o mistério é mais embaixo. Tudo o que a arte faz é simular o desvio. O erro e a dor, a cegueira e o grito, a negação e a bagunça, o gozo e a ferida. O pecado. Todo o resto, que se perde em missões de fruição e escapismo, é acidental. Acidente este que decorre de seu propósito único e último, afinal, pecar e tropeçar compartilham a etimologia.
Enganam-se, por escolha, os que colocam perspectivas, contrastes, rimas, métricas e toda sorte de simetria no pedestal do sagrado, pois também ela, veja você, é desvio.
Também ela, a simetria das colunas dóricas, dos contrastes bem talhados em pedra e dos sonetos do Parnaso é o véu da ilusão. A ode quase religiosa a Vitrúvio, Michelangelo e Bilac mascara o que eles realmente fizeram: romperam com seus antecessores, negaram o que os precedia. Eles pecaram. E foi por isso que fizeram arte, não por causa de suas proporções perfeitas. Foi apesar delas.
E é nesse pecado que vida e arte se misturam e vez ou outra brincam de se tornar uma só. São as lacunas que louvamos e a forma como as tornamos perfeitas, mas nunca a perfeição per se.
Enganam-se, por escolha, os que colocam perspectivas, contrastes, rimas, métricas e toda sorte de simetria no pedestal do sagrado, pois também ela, veja você, é desvio.
Também ela, a simetria das colunas dóricas, dos contrastes bem talhados em pedra e dos sonetos do Parnaso é o véu da ilusão. A ode quase religiosa a Vitrúvio, Michelangelo e Bilac mascara o que eles realmente fizeram: romperam com seus antecessores, negaram o que os precedia. Eles pecaram. E foi por isso que fizeram arte, não por causa de suas proporções perfeitas. Foi apesar delas.
E é nesse pecado que vida e arte se misturam e vez ou outra brincam de se tornar uma só. São as lacunas que louvamos e a forma como as tornamos perfeitas, mas nunca a perfeição per se.
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