13.1.22

Malditas Memórias

Hoje, uma dessas tardes em que vagar se torna um comigo, parei no primeiro bar que achei nos arredores, para pegar uma água e lavar as mãos, o novo habitual dos nossos tempos.

Só me dei conta quando me encarei no espelho.

Vila Madalena.

Com a infinidade de bares, por qual truque mental vim parar logo nesse?

Um ano e meio atrás, naquela última mesa, bem na minha reta agora, uma versão mais antiga de nós dois remendava nossas feridas emocionais na base da cerveja.

Eu, um tanto ausente por remoer a dualidade "quero/devo" e os resquícios do resfriado que me arriara os dois dias anteriores na cama. Nem os óculos eu tinha lavado, e sabia que você reclamaria disso.

Você agradecendo minha presença. Dizendo que precisava me ver, porque eu estar ali te curava.

A lembrança me vem de forma tão sinestésica que sorrio o mesmo sorriso. A concordância muda, pois descrente desses teus arroubos de mim.

Hoje, você não me acusa enquanto lavo as mãos de frivolidades por conta do meu signo e de romances sempre derramados, mas pouco sentidos.

Você não desenha sua dança ao redor de mim, sua aproximação sempre vulcânica.

Você não se deixa no meu corpo, para eu ter que passar os muitos dias depois assimilando seus efeitos.

Não afundo o rosto na sua nuca, seus cabelos, sua saliva, seus gemidos. Trincando os dentes, minhas mãos nos seus quadris. Uma brecha do destino*, e nós dois fazendo a única coisa possível.

A chuva que me pegou desprevenido na saída do metrô, hoje, não lava a minha alma. Hoje, preciso ceder a toda essa tua ideia louca sobre eu e você. Só quem lavaria a minha alma, hoje, seriam esses nós.

Lay beside me now and tell me lies as long as it's not about love.

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*E eu já cheiro tuas previsibilidades, de longe, me inquirindo: Por que não recriamos, nós dois, mãos dadas e o salto cego, essa brecha?

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