1.1.21

Nada

0h18 param fogos e gritos, e aquele Feliz Ano-novo solitário pisca na tela do meu celular. Dias antes, você se oferecera pra me encontrar onde quer que fosse.

Desespero, pensei.

Em parte, por conhecer teus padrões, em parte, por conhecer os meus.

Dizem que a gente reproduz traumas afastando as pessoas como pode e se colocando como inamável.

Mas como pode se sempre busquei o oposto? Fiz caridade. Suportei procedimentos estéticos. Estudei as minúcias de todas as fórmulas do amor com que Leoni e Leo Jaime nunca se depararam.

Sabe Deus o quão fundo tive que enterrar sentimento a sentimento, pessoa a pessoa, a ponto de sequer putrefar, mas se dissolver no calor do centro da Terra. No calor inóspito do centro de mim. A eles sequer foi dada chance de recalque.

Fiz o impossível. 

Aprendi a destroçar cada passo, cada expectativa que se forçava contra a minha vontade. Cada sonho de um desejo de merda real de mim. Por mim. Não por carência ou desespero. Não pelas coisas que represento. Não pelo eu troféu.

O que hoje me consome não é ter muito guardado, mas é justamente ter atingido meu feito: meu próprio buraco negro pessoal.

O que queima não é a desilusão, veja bem. Há quanto tempo sequer sinto dela ou de qualquer análogo o cheiro. É o vazio. Tão talhado e acostumado que a ele é impossível que qualquer coisa, boa ou má, crie aderência. Um vazio vagante, errante, cujos rastros não dão em lugar algum.

O silêncio material que a cidade finalmente faz volta a encontrar meus próprios silêncios interiores. Feliz Ano-novo, eu me desejo, mas é um voto seco, quase um deboche.

O caminho é solitário. Sorte - acredite, minha querida, traição cedo na vida é sempre sorte - a minha ter percebido isso o quanto antes.

A notificação ainda brilha. É claro que não vou responder. Eu não posso te dar esse amor que intentas. Cada um só dá aquilo que tem. Eu não tenho nada.

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