16.2.22

Quarta-feira

Eu nunca imaginei uma versão dos fatos de nós dois em que Elizabeth se despiria para mim. Displicentemente, como quem entra no chuveiro de casa.

Que tirasse as piadas, os vieses, os tangenciamentos e apenas se mostrasse, ali, em sua natureza.

Mas eis que houve um dia, um dia muito particular. Era quarta-feira, dia em que a urgência da semana se estabiliza, e os afazeres se encaminham quase que sozinhos.

Quarta é um dia traiçoeiro, a amostra de calmaria nos coloca em contato com nós mesmos, e não é sempre que estamos disponíveis para esse tipo de escrutínio.

E havia ela, as insatisfações misturadas ao gosto da desistência dos desejos, como se fingir abrir mão pudesse evaporar a poeira dos cantos.

Vacilei se questionava ou não, Elizabeth nem sempre era um terreno convidativo. Mas o fosco nos olhos de vírgula me apertava o peito.

Esperei de tudo, dos disfarces aos cortes, menos o que de fato aconteceu.

Tudo o que fervilhava nela era demais para ser assimilado, quanto mais transmitido, por isso era como se vivesse em banho-maria.

Então ela se aconchega no meu colo, e acaricio seus cabelos. Que faça o silêncio seus próprios remendos, não há sentido* atribuível ao que só pode ser o que é.

Estar ali, de repente, nos bastava.



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* significado e sentimento

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