19.2.22

Sábado

Desde quando conheci Elizabeth, eu já sabia que o fim se prenunciava. Havia pessoas, havia rotinas, mas principalmente havia uma propensão bilateral à esquiva.

Ir embora era questão de tempo.

Eu só não esperava que sequer fosse ter tempo de lidar com o fato antes de consumado. E foi assim que tive que assimilar a partida dela. Sozinho. Em um quarto de hotel.

Era sábado, e talvez o caminhar literal pelas ruas lotadas do bater ponto da felicidade me tirasse daquele remoer em círculos.

Beijos escandalosos, sorrisos bêbados e olhares vidrados. Gargalos necessários do cotidiano. O brinde à analgesia da vida real. Não sua celebração, pelo contrário, sua total recusa.

Procuro um lugar, qualquer lugar, que me tire dela, de mim. No qual também eu consiga uma dose eficaz de fantasia.

Fracasso.

Em cada detalhe, é ela. Uma música, uma tatuagem, a fase da lua, o sinal de trânsito. Tudo. Porque era através dela que eu tinha passado a ver a realidade, e esse não é um tipo de miopia que se pode corrigir.

Um maço de cigarro inteiro dirigindo sem saber sequer se invadi a contramão depois, paro no que parece ser um lago, mal iluminado, mato alto.

Talvez perder Elizabeth fosse desde o início mais certo do que a encontrar. E, aqui, me pergunto se em algum momento a encontrei de fato ou se nesse enredamento só consegui perder a mim mesmo.

Não há paz que me resgate longe de Elizabeth. Porque eu, pueril e inconsequente, me permiti ser deixado nela.

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