14.2.22

Segunda-feira

Era segunda-feira, com toda a urgência de começo de semana. Um corretor de imóveis insistente no telefone, um ambulante que tenta me vender a novidade do século, um assovio do outro lado da rua.

Afazeres se empurrando como se minha mente fosse um metrô lotado.

Ignoro os ruídos divergentes para não enlouquecer, só por agora, tentando conquistar pelo menos dez minutos de sanidade.

O café ao virar da esquina, luzes baixas e decoração cafona, parece conseguir abrigar meu escoamento mental desses excessos.

Então a vejo.

Cabelos escuros na altura dos ombros, bolsa de crochê de lado - breguíssimo, eu nem sabia que ainda vendiam -, óculos mal lavados. Vestia mais cores do que eu podia assimilar, mas, diferente do caos do lado de fora, nela a bagunça me deu um estranho - e inédito - tipo de paz.

Fiz uma piada descabida de tiozão, típico de mim. Ela me sorriu com a virada de rosto, reprovação e identificação - típico dela.

Dois espressos, um com baunilha e um canela, e uma tarde mais longa do que as obrigações lá fora me permitiam de todas as diferenças tão complementares de nós dois.

Não foi assim que nos conhecemos. Mas foi assim que, pela primeira vez em anos desde então, eu comecei a conhecer de fato Elizabeth.

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