Foi assim.
Num bar de fim de tarde sentada sozinha com seu gin e alguma mistura exótica na mão, vendo aquele Tinder presencial se desenrolar na sua frente.
O homem de terno e coque que ponderava se galanteava alguém pagando uma bebida o mais barata possível que ainda impressionasse. O homem não tinha nada a ver com ele, não fossem a gravata verde e o coque.
Elementos objetivos, assim como tudo a respeito dele, o que ela chamava por "combo do apelo". Motivos tão óbvios, que seria fácil demais se escusar ali em qualquer um deles, em todos eles: ele fazia o tipo, ele era mais um dentro do padrão, ele representava universos importantes pra ela. E, no entanto, claro que não, não foi por nenhum desses objetivos que ele ficou.
Outros modelos desse ela conhecia aos montes, as próprias janelas de conversas em aplicativos eram um cardápio de mais do mesmo.
Não se importava.
Era só ele que a fazia parar a rolagem automática dos pensamentos.
Porque era o sorriso, de convites superficiais e temporários, e era também aquela sobrancelha mais cheia, de esquivas e análises mesmo onde se supunha haver entrega. Eram as mãos, então, o toque presente e particular, os nós dos dedos marcando a alegoria perfeita da inutilidade de molhes de chaves-mestra.
Deu o gole derradeiro na bebida extravagante, o tal sujeito tomou coragem e ela se descobriu como o alvo daquele jogo de poder disfarçado de cortejo.
Agradeceu a oferta sem sorrir, sem desviar o olhar do garçom sem graça por ela não cumprir os protocolos do lugar.
Nunca foi a profissão, os cabelos, tampouco a substância da qual ambos eram feitos. Era ele, e isso era foda.
Chaves do carro na mão e qualquer banda antiga que a resgatasse daquele lapso. Não, não importava, de fato. Não há resquício do que quer que seja que, por ferrenha imposição da escolha, não se dissolva no mecanicismo do cotidiano.
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