27.3.22

Reconhecimento

Então arrumou os cabelos - deixando mais bagunçado do que antes -, sentou-se no sofá de antiquário, pegou a gaita como se naquele ambiente tudo se integrasse: ela, ali pertencente. E me tocou suas composições.

Melodias que, em suas pausas cadenciadas de figuras rítmicas complexas, a cada vez tocadas eram uma versão diferente delas mesmas. Cada uma, nesse etéreo subjetivo dos sons poucos delimitados, contava uma história particular.

Nenhuma nunca tinha sido terminada. Eram devaneios materializados em seus sopros na gaita.

Foi assim que percebi. Ela, em toda a poesia tecida simplesmente pela sua existência. Tudo o que tocava. Tudo em que tocava. Nós dois.

Nada de tudo o que é mais sensível e profundo merece a castração das conclusões.

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