12.4.22

G de Sol

G de garbo, com todo o contraste da polissemia. A elegância ostentada em café, echarpe, óculos escuros e piano, e a total falta de mesuras me jogando nua no chão da sala.

E G do gemido, claro. Aquela coisa tão tua de ter em um mesmo a delicadeza e a barbárie, o som da entrega a que faltam uns comas pra atingir um Fá sustenido - isso você que me diz -, sensível pedindo resolução de tônica.

G do gin que você derrubou da mesa, clichê-canastrão, sem nem pensar, e que teria me feito rir não fosse o tesão roubando a cena de qualquer outra coisa.

G do gosto do beijo rápido no carro, que é despedida e saudação e motivação pro dia ser melhor, já apertado de saudade pelas poucas horas seguintes das bocas distantes.

Do gostar da necessidade de estar perto, alfinetar e nos conectarmos de alguma forma. De dar um jeito. De falar o quanto você tá bonito e iluminado hoje, mesmo tendo se arrumado no meu quarto.

E o gosto do gostar das fugas dos olhares, os sussurros de tô louco pra tirar tua roupa e só te soltar amanhã.

E o gozo de te ver sério, forjando me olhar distante... com a minha calcinha no bolso.

G da gula de nós dois, de você me descortinar no toque e se assinar por dias na minha pele.

E G da gula de mais e mais querer beber da sua escuridão - a melhor parte de você. E, veja só, meu amor, ainda assim, nessas angústias existenciais que lhe são tão particulares, você é Sol.

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