Foram muitas histórias que vivemos naquele curto espaço de tempo. Não digo curto pelos meses em si, mas pelos nossos excessos um com o outro. E, dessas histórias, só nós dois as sabemos de fato. Só nós dois sabemos o quanto muitas delas se tornaram decoração compulsória do nosso cotidiano.
Mas teve um momento em particular que nunca parou de me ser uma tormenta. Aquele dia pós-término, a incredulidade na voz, agudizada demais pro teu padrão de barítono, dizendo o quanto era inaceitável, depois de tudo, eu escolher acreditar nas minhas inverdades, cunhadas simplesmente para nos negar. Você estava certo e eu, errada.
Vivi umas doze vidas naquela esquina enquanto esperava o Uber. Cogitava ir ou não lhe falar. O bom senso me paralisava, enquanto a batalha de sentimentos me forçava a me enlaçar de novo em você. O cabo de guerra foi rompido quando senti o choro me descer invertido, salgando a garganta.
Fui e voltei incontáveis literais vezes. Então subi as escadas, tropeçando nos degraus (e queria que isso não tivesse sido também literal), e te vi, o Uber esperando irritado, te olhei e te disse que apesar de tudo o que nos tinha acontecido - nós dois, apenas por o sermos, tínhamos despertado toda sorte de sentimento merda ao redor, raiva inveja mágoas frustrações transferências preconceitos principalmente -, mas o pior de tudo, eu te disse, era nós dois não sermos mais um nós dois, todo o resto parecia piada perto disso.
Você nada disse, virou-me as costas, saiu rebocando o que estivesse na frente. E é claro que entendi que o ódio que te incinerava era o ódio que só sente quem já amou em igual medida.
Sim, eu sei que eu fui tua exceção, mas você também foi a minha. Você foi a única pessoa que, mesmo feita personagem, eu não consegui escrever. Meses e meses revirei esses textos, e era impossível te decretar um destino, dar-nos cabo. Fazia sentido, afinal, sempre fui de só conseguir falar sobre aquilo que já tinha conseguido digerir, sempre calei no olho do furacão, e quando tua devastação me deixaria?
Amar você era paz, mas também desespero. E te ter recíproco me fazia converter madrugadas insones no vaso. Então aconteceu. Meses. Meses, meses mesmo, infindas horas arrastadas depois, você me surge naquele palco, o último momento em que eu esperaria, duvidei mesmo ouvindo o nome incomum. Vindo direto na minha direção, vendo teu baque, também, por essa arrochada tão ingrata da vida.
Te ter de novo, teu cheiro lacerando meus poros, não me fez assimilar porra nenhuma. Não te escrevo hoje por te ter de mim extirpado. Foi por perceber meu egoísmo de guardar-nos em esboços, esconder-nos (mais uma vez), a alegoria nos textos daquela realidade vivida, e perceber que nos silenciar foi, no final, o maior pecado que cometi contra mim.
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