20.11.22

Fuck it

Nunca achei injusta sua dúvida

Afinal, eis minha existência sempre escusada, absorta nos meus infindáveis compromissos

Preferi assumir o tom leviano nas minhas insinuações rasgadas

Era mais fácil


Mas sempre fui partidária da ideia - bem tóxica, aliás, tal qual nós dois - de que onde tem sentimento a educação e o bom senso não conseguem muito dar as caras


E aí é neste ponto que você desconfia de que falo de você, entre puto e surpreso, e por sabermos que pode caber tanto ódio em um ser tão pequeno, você então tem certeza


Sim, isto aqui é sobre você


Sobre o você indignado com a mediocridade humana, de mãos indevidas em lugares públicos

O você de deboche e sarcasmo que, no tanto que escondem, tanto de você revelam: inadequação, recusa, conflito, negação

Estar à margem por escolha e necessidade

Ser a fronteira caótica da existência

Demarcação de território nunca circunscrito

E então tem o você de encontros, reconhecimento, química e tesão desmedidos


Sentir é difícil demais na reciprocidade

Principalmente pra quem tem pavor de realização

Principalmente quando escuridões tão bem cimentadas e encenadas em leveza e "foda-ses" se dão as mãos e resolvem saltitar na superfície

É mais óbvio o ódio*, caminho natural

A repulsa, a aversão

No fim, fica meu modus operandi, a eu de sempre: indiferente e desistente, distância de não sentir

Você? Irrelevante, que importa?




*existe no mundo quem o tenha sentido sem antes - ou concomitante - em igual medida ter amado?




Fuck all those kisses, it didn't mean jack

Fuck you, you ho, I don't want you back

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